sábado, 30 de outubro de 2010

Eleitor 'esfrega' o Brasil real na face de Dilma e Serra


(*) Josias de Souza


Nem Dilma Rousseff nem José Serra. No último debate presidencial da temporada de 2010, a grande atração foram os eleitores indecisos. Escalados como inquiridores, eles esfregaram no nariz dos candidatos um país que ambos se abstiveram de debater nos quatro meses de campanha.

“Já fui assaltada com uma arma na cabeça, na porta da minha casa”, a costureira Vera Lúcia disparou. O bandido queria a bolsa. Ela não entregou. Livrou-se do tiro porque a gritaria de um irmão afugentou o bandido. Como resolver o problema da segurança?

O convívio de Vera com a morte converteu numa espécie de abstração o Ministério da Segurança de Serra. A idéia de Dilma de estimular o policiamento comunitário soou etérea.

Na arena montada pela Globo, 80 eleitores indecisos envolveram os candidatos num semicírculo de realidade. O resultado foi constrangedor. Percebeu-se que as duas campanhas giravam como parafusos espanados ao redor do oco do vazio.

Na publicidade eleitoral, a miséria foi útil para que os marqueteiros fabricassem o país vago e imaginário que associaram a Dilma e Serra. Na rotina de Madalena de Fátima, porém, a impaciência prevalece sobre a ilusão. Depois de se apresentar, a cabeleireira mineira demarcou as diferenças.

“Na propaganda dos candidatos, vimos uma saúde pública maravilhosa”, ela realçou. Fora do ambiente edulcorado do vídeo, “tem gente morrendo”. Ela pintou o quadro: hospitais cheios, falta de médicos, gente convertida em “lixo”... Até quando seremos tratados “como animais”?

Serra há de tê-la deixado mais desalentada: “Nunca vai chegar à perfeição. A batalha tem que ser para que hoje seja melhor do que ontem e amanhã melhor do que hoje”. Dilma tampouco há de tê-la reanimado: “De fato, temos um problema sério de qualidade da saúde no Brasil. Se a gente não reconhecer, não melhora”.

Diante de Madalena estavam 16 anos de poder –oito de FHC, oito de Lula. E a eleitora, uma das que o Ibope selecionou por ser indecisa, não recebeu dos candidatos senão respostas duvidosas.

Trazidos das cinco regiões do país, os perguntadores estavam no Rio desde quarta-feira (27). A Globo sonegou-lhes o acesso à internet e à televisão. Isolados num hotel, formularam cinco perguntas cada um. Apenas doze foram lidas no ar, mediante seleção aleatória.

Numa das vezes em que levou o dedo indicador à tela do computador, Dilma “escolheu” a pergunta de Melissa Bonavita, uma jovem carioca, operadora de telemarketing. As palavras dela como que espalharam coliformes fecais pelo cenário asséptico do estúdio da Globo.

“Moro num bairro onde tem um valão nas proximidades”, ela contou. Quando chove, o valão “transborda”, inundando de “esgoto” as ruas. O que será feito?

Dilma: “Vou triplicar os investimentos em saneamento. [...] A meta é zerar o déficit de saneamento. É uma vergonha termos esse problema no século 21”. Cifras? Não mencionou. Tipo de metas? Não especificou. Prazos? Nada.

Serra: “Deve multiplicar, sim, os investimentos. Mas o governo federal duplicou os impostos em saneamento. Isso tira R$ 2 bilhões das companhias estaduais por ano”. A dupla mencionou também a necessidade de combater as enchentes, cada um à sua maneira.

Não foi possível saber se Melissa decidiu em quem votar. Mas voltou para casa com uma sólida certeza: o “valão” que verte esgoto na sua rua terá vida longa. Advogado de Brasília, selecionado pela pressão do dedo de Serra contra o computador, Lucas Andrade tratou de outro tipo de lama: a corrupção.

Espremeu nos 30 segundos que lhe foram reservados tudo o que precisava ser dito sobre o tema: as fortunas amealhadas pelos políticos, o desinteresse midiático que se segue às manchetes enfezadas, a impunidade acima de certo nível de renda...

Serra e Dilma fustigaram-se mutuamente. Ele disse que a corrupção “chegou a níveis insuportáveis”. Sem mencionar Erenice Guerra, afirmou que o governante precisa “dar o exemplo, escolhendo bem as suas equipes”.

Ela levou à roda o caso dos Sanguessugas, um escândalo que tem raízes na gestão do rival no Ministério da Saúde, sob FHC. Na tréplica, Serra atacou de aloprados: “R$ 1,7 milhão que PF apreendeu. Ninguém foi condenado. Um mal exemplo”. Sem querer, o advogado Lucas transformou um pedaço do debate numa gincana do "sujo" contra a "mal lavada".

O programa foi interessante pelas perguntas, não pelas respostas. Os comitês de campanha têm dificuldade para indentificar o eleitor indeciso. Quem são eles? Como entrar na cabeça deles? Como conquistar o voto deles?

Forças ocultas da eleição, eles ainda somam, segundo o Datafolha e o Ibope, 4% do eleitorado. Algo como 5 milhões de votos. Representados pelo grupo de 80 reunido no estúdio da Globo, eles mostraram a sua cara.

Seres impalpáveis, eles falam da desgraça nacional com conhecimento de causa. A felicidade deles é uma virtude fugitiva. Correm cotidianamente das armadilhas que o descaso do Estado acomoda no caminho.

Ouvindo-os, percebeu-se o quanto Dilma e Serra desperdiçaram o tempo de campanha. Enquanto discutiam religião e espalhavam cascas de banana na internet, o eleitor indeciso levava o revólver na cara, assistia à morte no corredor do hospital, sujava o sapato no esgoto da rua, indignava-se com o enriquecimento sem causa.

Diante da incógnita escondida atrás das duas “opções”, o indeciso revelou-se o eleitor mais sábio. As campanhas lhes venderam uma Bélgica. Mas eles sabem que, depois de 16 anos de tucanos e petistas, ainda vivem no Brasil.

(*) Artigo extraído do Blog do Josias de Souza

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A Medalha Santos Dumont


Estive em Santos Dumont cobrindo para o Blog a entrega da Medalha Santos Dumont. A solenidade ocorreu na Fazenda Cabangu, onde nasceu o patrono da FAB, local que hoje encontra-se sob a guarda da Escola Preparatória de Cadetes do Ar - Epcar.
O governador Antonio Anastasia presidiu a solenidade, quando destacou o exemplo de ousadia deixado pelo mineiro Santos Dumont, e que tem sido a marca de Minas Gerais. “Nos últimos anos, Minas Gerais tem sido marcado pela ousadia. Em termos de gestão pública, por exemplo, ficamos tão ousados que nos tornamos um modelo internacional, indicado pelo Banco Mundial como um paradigma a ser seguido por outros estados.”
“A ousadia apresentou resultados muito concretos. Acho que nós, mineiros, temos na expressão da ousadia, do empreendedorismo, da coragem, do denodo, sentimentos muito fortes à mineiridade. Então, Santos Dumont é um belo exemplo disso, e vamos continuar sempre nessa mesma trilha”.


Afirmou ainda o governador que poucos brasileiros inovaram e foram tão ousados em seus sonhos quanto Santos Dumont. Ele disse que Minas tem procurado seguir esse caminho para dar um salto de crescimento e alcançar um novo patamar de desenvolvimento. “A trajetória de Santos Dumont ensinou a mineiros e brasileiros que não existem metas instransponíveis e desafios insuperáveis”, concluiu o professor Anastasia.


PRECURSOR
Orador oficial da cerimônia, o presidente da Assembléia Legislativa, Alberto Pinto Coelho destacou o sonho de Santos Dumont “se hoje milhares de aviões cruzam os céus, foi por causa do sonho precursor daquele menino". Lembrou que a partir daquele passo, expandiu-se pelo mundo a indústria da aviação e, consequentemente, a indústria do turismo. Para o deputado, a grande lição do aviador que fica para todos é a de que, “com esforço, talento e criatividade, podemos dar passos para melhorar o mundo”.


REFERÊNCIA
A Medalha Santos Dumont foi criada pelo governo de Minas Gerais para comemorar o primeiro vôo com uma aeronave mais pesada do que o ar, em 23 de outubro de 1906, realizado por Santos Dumont, e é concedida a pessoas e entidades que tenham contribuído para o desenvolvimento e o progresso no país.
Dentre os agraciados ligados à cidade e região estão: o professor da Epcar e da Unipac, Carlos Vinicius Costa Cruz Machado; a promotora de justiça, Lenira de Castro Luiz; o desembargador Dídimo Inocêncio de Paula; o Comandante do Pelotão de Alto Rio Doce,Ten PM Miguel Martinho Marinho. Também foram agraciados o Major – brigadeiro Dirceu Tondolo Norô; o brigadeiro Marcio Beringue Cardoso; o brigadeiro Ricardo Machado Vieira; e o comandante da Epcar, brigadeiro Carlos Eurico Peclat do Santos.


AUTORIDADES
Compareceram ao evento os presidentes do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Cláudio Costa; do Tribunal de Contas do Estado, Vanderley Ávila; a procuradora-geral do Estado, Maria Odete Souto Pereira; o sobrinho-neto de Santos Dumont, Jorge Henrique Dumont; além de oficiais da PMMG, da Aeronáutica e do Exército, secretários de Estado, deputados, prefeitos, vereadores, reitores de universidades, empresários, entre outros. No evento, reencontrei com o Cel. José Eduardo Silva, comandante da 13 Região Militar e com o Cel. Luiz Carlos Martins, Chefe do Gabinete Militar do Governador e membro do Conselho da Medalha Santos Dumont.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Oposição unida




(*) Merval Pereira


A radicalização promovida pelo próprio presidente Lula no embate eleitoral, com o objetivo de eleger sua candidata a qualquer custo, gerou uma inesperada unidade de ação na oposição no segundo turno. Além de ter dado novo ânimo à oposição, essa tentativa de Lula de atropelar os adversários fez com que os líderes oposicionistas usassem o segundo turno para ensaiar os primeiros movimentos do que será a atuação de um futuro bloco oposicionista, se for confirmada a eleição de Dilma Rousseff nesse segundo turno.
O melhor exemplo está na manifestação do fim de semana no Rio, que reuniu as principais lideranças do PSDB, do PP e do DEM em apoio ao candidato tucano, José Serra, no que foi a maior passeata da campanha até o momento.
O fato é que a tentativa de dizimar a oposição acendeu um sinal amarelo nas lideranças que ainda alimentavam a utopia de um relacionamento amistoso com o presidente Lula, e tornou muito mais acirrada a disputa presidencial, quase que obrigando a essa união das forças oposicionistas que sobreviveram ao ataque de Lula.
"O presidente sai dessa eleição menor do que entrou". A frase do ex-governador e senador eleito por Minas Gerais Aécio Neves é emblemática.
Elegendo sua candidata usando os meios que vem usando, o presidente Lula, como diz a candidata verde Marina Silva, "ganhará perdendo".
E se, como tudo indica, isso não tiver a menor importância para ele, desde que vença a eleição, estará ratificando a sua opção pela baixa política, o que quase metade do eleitorado brasileiro repudia ao votar na oposição sistematicamente desde que ele se elegeu pela primeira vez em 2002.
Há um mínimo de 40% de eleitores que votam na oposição desde aquela época no segundo turno, e tudo indica que este ano o número será maior ainda, mesmo que os votos válidos oposicionistas não sejam suficientes para vencer a eleição, o que ainda é uma hipótese rejeitada pela oposição.
No meu livro "O lulismo no poder", da Editora Record — que, aliás, já está na segunda edição — escrevi na introdução, utilizando uma definição bastante conhecida, que o presidente Lula tem demonstrado que é um político populista, que pensa na próxima eleição, enquanto o estadista pensa nas próximas gerações.
O próprio Lula, na primeira declaração ao ser eleito em 2002, reconheceu em público a atitude "republicana" do então presidente Fernando Henrique Cardoso durante a campanha presidencial, sem a qual ele poderia não ter sido eleito.
Ao contrário do seu antecessor, que promoveu um processo de transição presidencial exemplar, o presidente Lula deixou claro desde muito antes do início oficial da campanha presidencial que o único resultado que o interessava era a eleição de sua sucessora.
Chegou ao exagero de dizer que, sem a eleição de Dilma Rousseff, consideraria que seu governo tivesse fracassado.
O ex-operário que chegou ao poder prometendo uma nova maneira de fazer política, e alegando que a corrupção seria reduzida pela simples chegada do PT à Presidência da República, transformou-se no mais pragmático dos políticos, no pior sentido do termo, que é o de conviver com o fisiologismo e a corrupção no pressuposto de que são inevitáveis na nossa democracia de massas.


(*) Artigo de Merval Pereira - extraído do Jornal O Globo de 26/10/2010

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O Estilo desfaz o homem


(*) Dora Kramer


Daqui a oito dias, no próximo domingo antes das 9h da noite, o presidente Luiz Inácio da Silva começará a vivenciar o passado, as urnas apontem a eleição de Dilma Rousseff ou de José Serra para lhe suceder na chefia da Nação.
É inexorável: eleito, as atenções se voltam para o novo, o próximo, aquele que de fato traduz mais que uma expectativa, representa o poder em si. Político baiano da velha guarda, Afrísio Vieira Lima tem a seguinte filosofia: "Ninguém atende ao telefone ou à porta perguntando quem foi, todo mundo quer saber quem é."
Pois é. Face à evidência de que a natureza humana não falha, o mundo político não foge à regra. No momento seguinte à proclamação do resultado, o País - quiçá o mundo - voltará toda a sua atenção para a fala, os planos, os gestos, as vontades, os pensamentos, a biografia, a família, os amigos e tudo o mais que diga respeito à pessoa que a partir do primeiro dia de 2011 dará expediente no principal gabinete do Palácio do Planalto.
Quando a gente vê um presidente tomar a iniciativa de se desmoralizar em público apenas porque não resiste ao impulso de insultar o adversário, a boa notícia é que falta pouco tempo para que esse estilo comece a fazer parte de referências pretéritas.
Abstraindo-se juízo de valor a respeito de Dilma e Serra, chegará ao fundo do poço que o presidente Lula se deu ao desfrute de frequentar na semana passada. Pela simples razão de que é impossível.
A novidade não esteve na distorção dos fatos - isso já faz parte da rotina. O ineditismo foi o desmantelo da farsa. Melhor dizer, das farsas, pois foram duas: uma engendrada com vagar, outra montada às pressas. Ambas malsucedidas, não duraram 24 horas.
No começo da semana, quando já se anunciara o adiamento do fim da sindicância da Casa Civil sobre Erenice Guerra para depois das eleições, eis que a Polícia Federal ressuscitou o caso da quebra do sigilo fiscal de parentes e correligionários do candidato Serra, anunciando a identificação do responsável: Amaury Ribeiro Jr., jornalista que à época do crime trabalhava no jornal Estado de Minas.
O PT tentou legitimar, assim, uma versão que fazia circular desde junho quando se descobriu que os dados fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, apareceram em um dossiê que chegou ao jornal Folha de S. Paulo como originário do PT.
A versão - não de todo inverossímil, diga-se - era a de que as informações haviam sido reunidas por Amaury a serviço do Estado de Minas para municiar Aécio Neves de dados contra José Serra, que, por sua vez, mandara investigá-lo.
Segundo um delegado e o superintendente da PF, Amaury dissera em seu depoimento que o trabalho visava a "proteger" Aécio. Antes da entrevista dos dois, o presidente da República anunciava que naquele dia a Polícia Federal teria novidades.
Pois no dia seguinte, sabe-se que nem Amaury estava a serviço do Estado de Minas na ocasião nem citara no depoimento o nome de Aécio Neves. Ou seja, o presidente Lula comandara uma falácia e a PF aceitara se prestar ao serviço, acrescentando que as investigações estavam encerradas.
Foi desmentida em seguida pelo Ministério Público, que avisou que a polícia não estava autorizada a determinar o rumo e os prazos das investigações.
Não satisfeito, depois da pancadaria promovida por petistas contra uma passeata do candidato tucano no Rio, o presidente resolveu acusar o adversário de ser um farsante. Precipitou-se, insultou o candidato em termos zombeteiros, desqualificou um médico de respeitável reputação, foi de uma falta de modos ainda pior que o habitual.
Isso tudo para quê? Para ser logo em seguida desmentido pelos fatos exibidos no noticiário de televisão com a maior audiência do País, o Jornal Nacional.
Tudo isso sem necessidade, pois pelas pesquisas sua candidata está com 12 milhões de intenções de voto de vantagem sobre o adversário.
Tudo isso pelo exercício de um estilo abusivo que não conhece limites, mas que daqui a oito dias começará a perceber que o poder passa e a ausência dele dói.

(*) Artigo de Dora Kramer extraído do Jornal Estado de São Paulo de 24/10/2010

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

As pesquisas como geradoras de fatos políticos


(*) Bruno Lima Rocha

Se há algo polêmico e ainda não comprovado é a credibilidade das chamadas pesquisas de opinião e intenção de voto.
Particularmente me somo aos críticos e com este artigo, tenho certeza de que irritarei a maioria dos marketeiros, proprietários de institutos de pesquisas e coordenadores de campanha.
Não questiono aqui a intencionalidade original de quem as organiza e nem faço ilação de que as mesmas são fraudadas. O problema é de outra ordem e trata da razão de ser das mesmas e suas variáveis analíticas. Uma vez que as aferições são sempre contestadas, e ainda assim tem repercussão midiática, a atividade fim, a de demonstrar as intenções de voto, torna-se secundária.
Hoje no Brasil, a pesquisa de opinião opera como fato político. Seus resultados são oportunistamente elogiados por quem sobe e refutados pelos que descem.
Na inversão das funções, as pesquisas passam a incidir sobre as intenções de voto, a partir do momento em que estas são midiatizadas e constituem-se como enunciados das campanhas e candidaturas.
Vive-se assim um paradoxo. Cada vez mais, menos operadores políticos e analistas manifestam crença real nos resultados das pesquisas. Simultaneamente, estas aferições são utilizadas como peças de propaganda. Ao fazerem parte do arsenal do bombardeio midiático, mesmo sendo muito questionadas, tornam-se parte fundamental da corrida rumo ao Planalto e aos executivos estaduais.
Ao final do primeiro turno, houve erros crassos em escala nacional e nos estados. O detalhe é que estes erros são recorrentes, trazendo à tona um questionamento quanto à eficácia dos instrumentos das pesquisas.
Elencando três argumentos óbvios, o primeiro destes é a amostragem. Se já é difícil a totalização de um censo com questionário fechado, que dirá uma aferição instantânea da opinião transitória?
O segundo ponto fraco é a materialização do objeto de estudo. Ou seja. Como é possível aferir algo instantâneo, passível de mudanças e que goza de poucos elementos de convicção? Sim, porque o que está em disputa se dá sobre a maioria silenciosa, na busca do senso comum através de um léxico passível de compreensão em um país de semi-analfabetos e analfabetos funcionais como o nosso.
O terceiro argumento é a própria identificação entre o eleitor e sua preferência de voto. Qualquer analista com formação sólida julgará que a opinião condensada como opção pelo voto, apoiando uma ou outra candidatura, é a resultante de um processo com distintas variáveis incidentes. Assim, o pertencimento seria um fator mais influente para a definição do voto do que as estripulias de marketeiros. Entra fatores como o interesse direto, implicando em escolha de servidores de carreira optando por uma candidatura vinculada à expansão da capacidade de investimento do Estado; a identificação por lealdade partidária ou religiosa; a faixa etária marcada por elementos culturais; as identidades geradas através do fator território de moradia, dentre outros cortes de identidade. Convenhamos, é impossível incluir todas estas variáveis em uma amostra de entrevistados, o que torna as pesquisas passíveis de muitas falhas.
Concluo reafirmando o óbvio. A difusão de pesquisas opera mais como gerador de factóides eleitorais, criando fatos políticos através de sua exposição midiática, do que como uma medição das opções de voto do eleitorado. Eis o absurdo.


(*) Bruno Lima Rocha é cientista político – Artigo extraído em 20/10/2010 do Portal: www.estrategiaeanalise.com.br

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Transparências - 2º turno na eleição presidencial


(*) Marcos Coimbra

É fato aceito que o segundo turno decorreu fundamentalmente do desempenho de Marina Silva, em especial de seu crescimento nos últimos dias, quando se tornou opção para eleitores de classe média país afora. Mas não foi apenas esse fator que levou as eleições presidenciais para a fase de agora.

Na verdade, é impossível explicar o resultado de uma eleição tão grande, onde mais de 111 milhões de eleitores compareceram para votar, a partir de causas isoladas. Foram tantas as circunstâncias que afetaram as pessoas naqueles dias que será necessário tempo para que as consigamos identificar.

Mas houve um fato que contribuiu decisivamente para o resultado: a performance de Serra em alguns estados do Sudeste e do Sul. Em São Paulo e Minas Gerais, os dois maiores colégios eleitorais do Brasil, ele superou as expectativas das pesquisas, sendo que, em Minas, por larga margem. Também no Paraná e em Santa Catarina algo semelhante aconteceu, em escala um pouco menor.

Se considerarmos que o conjunto das pesquisas disponíveis captava corretamente o que estava acontecendo nesses estados até meados de setembro, tivemos neles um expressivo crescimento de Serra nas duas semanas finais da eleição. Foi um movimento tão importante quanto o bom desempenho de Marina na explicação do desfecho do primeiro turno.

Nos três outros estados das duas regiões, não houve surpresas em relação a Serra. No Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, ele ficou do tamanho que as pesquisas estimavam: atrás, mas perto de Dilma, no primeiro e no terceiro; distante dela e de Marina no Rio. Tanto lá, quanto no Espírito Santo, o problema de Dilma foi apenas a performance de Marina.

É evidente que muita coisa aconteceu em São Paulo, em Minas, no Paraná e em Santa Catarina que explica porque Serra melhorou. Cada estado tem particularidades, em cada um a campanha assumiu características próprias.

Todos, no entanto, se parecem em uma coisa: nos quatro, Lula se envolveu na guerra das sucessões estaduais, sempre assumindo o lado que contrariava o sentimento majoritário do eleitorado.

Retrospectivamente, vê-se com clareza que foi isso que ele fez. Nos quatro estados, venceram os candidatos a que Lula se opunha, todos no primeiro turno. Ou seja: não apenas ele não levou aqueles que apoiava à vitória, mas confrontou o desejo de mais da metade dos eleitores de cada lugar.

As vitórias de Anastasia, Alckmin, Beto Richa e Raimundo Colombo não foram ameaçadas pela participação de Lula nas campanhas de Hélio Costa, Mercadante, Osmar Dias e Ideli Salvati. Nenhum dos seus candidatos “virou” o quadro desfavorável com que se defrontava.

É provável, no entanto, que o preço pago por Lula tenha sido alto. Ter ido brigar (inutilmente) por esses candidatos pode ter tirado sua força na batalha principal: eleger Dilma.

As eleições estaduais transcorriam em um plano e a presidencial em outro. Em Minas, não era estranho que o eleitor pensasse em Anastasia e Dilma, assim como nela e, no Paraná, em Beto, ou, em Santa Catarina, em Raimundo Colombo. Até em São Paulo, não era incomum votar Alckmin e Dilma.

O que levou inúmeros eleitores nesses estados a se “alinhar”, votando PSDB (ou DEM) para os governos estaduais e para presidente, foi o discurso dos aliados de Lula. Foram eles que condicionaram o voto em Dilma a opções locais que eram contrárias ao que a maioria queria.

O uso (ou, melhor dizendo, o abuso) da imagem de Lula, desperdiçada na tentativa de eleger esses candidatos (alguns inteiramente inviáveis), só enfraqueceu seu poder de transferência. Melhor se o tivesse preservado para função mais relevante.

(*)Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi - Extraído do Jornal Correio Brasiliense 17/10/2010.

domingo, 17 de outubro de 2010

Bispo de Regional da CNBB defende divulgação de panfleto contra Dilma


(*) Robson Bonin do G1, em Brasília


O vice-presidente do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Benedito Beni dos Santos, questionou neste domingo (17) a versão apresentada pelo presidente do regional, Dom Nelson Westrupp, segundo a qual o Regional Sul 1 não patrocina a impressão e a distribuição de folhetos a favor ou contra candidatos.
“O texto é legítimo e foi aprovado no dia 26 de agosto, em São Paulo. A comissão episcopal representativa do Regional Sul 1, que engloba diversos bispos, fez uma nota no dia 26 de agosto, pedindo que esse apelo aos brasileiros e brasileiras tivesse ampla divulgação e isso ficou a critério de cada bispo. A divulgação começou a ser feita antes do primeiro turno e continua agora, antes do segundo turno. De modo que é um documento legítimo assinado pela presidência do Regional Sul 1 em nome do conselho episcopal”, disse ao G1 dom Benedito Beni dos Santos, que é bispo diocesano de Lorena (SP).
Neste sábado, uma gráfica no bairro do Cambuci, em São Paulo, informou que imprimiu 2,1 milhões de folhetos com o texto intitulado "Apelo a todos os brasileiros e brasileiras", assinado pela Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB. A candidata Dilma Rousseff classificou a distribuição desses folhetos como "crime eleitoral".
Dom Benedito dos Santos confirmou que o panfleto foi distribuído pela comissão. “Recebemos diretamente da Comissão em Defesa da Vida”, disse. A área de abrangência do Regional Sul 1 da CNBB compreende todo o estado de São Paulo.
O texto relaciona o PT e a presidenciável Dilma Rousseff à defesa da legalização do aborto e recomenda "encarecidamente a todos os cidadãos brasileiros e brasileiras" que, "nas próximas eleições, deem seu voto somente a candidatos ou candidatas e partidos contrários à descriminalização do aborto".
No sábado (16), o PT registrou boletim de ocorrência na polícia e fez uma representação à Justiça Eleitoral. Neste domingo, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ordenou à Polícia Federal a apreensão dos panfletos na gráfica.
Na nota divulgada neste domingo, o presidente do Regional Sul 1, Dom Nelson Westrupp, e demais bispos afirmaram que "não indicam nem vetam candidatos ou partidos e respeitam a decisão livre e autônoma de cada eleitor".

'Ampla difusão do documento'

Para dom Benedito Beni dos Santos, um dos integrantes da Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB, que assina o documento "Apelo a todos os brasileiros e brasileiras", distribuídos em igrejas católicas, a nota deste domingo contraria a decisão de “dar ampla difusão do documento”.
“Em nota do dia 26 de agosto, a presidência e a comissão representativa dos bispos do Regional Sul 1 da CNBB, em sua reunião ordinária, acolheram e recomendaram a ampla difusão do ‘Apelo a todos os brasileiros e brasileiras’. Assina a nota o presidente do Conselho Episcopal dom Nelson Westrupp. Então, causou a mim estranheza que essa nota tão clara seja agora, de certo modo, considerada como não autêntica”, disse dom Benedito dos Santos.
O bispo diocesano de Lorena diz que ficou “a critério de cada bispo” do Regional Sul 1 a divulgação do documento em forma de panfleto.
Apenas em Lorena, segundo ele, foram distribuídos 10 mil panfletos nas 31 paróquias da diocese. “Distribuímos para 31 paróquias da diocese e continuamos distribuindo no segundo turno. Estamos sendo fiéis ao que o representativo do Regional 1 pediu”, justificou.
O bispo chama de “oportunismo eleitoral” a carta apresentada pela candidata do PT na qual afirma ser contra o aborto e explica a orientação repassada aos fiéis.
“O documento cita o nome dela [Dilma] como aquela que aprovou o 3º Programa de Direitos Humanos do Governo. A nota não aconselha a votar nela. É uma recomendação de não votar no Partido dos Trabalhadores e em todos os candidatos favoráveis ao aborto”, declarou.


(*) Extraído do Portal G1, dia 17 de outubro de 2010

sábado, 16 de outubro de 2010

Ziraldo: “A humanidade é débil mental”


ZIRALDO lança alerta aos pais: deixar o filho sozinho no quarto com computador é o mesmo de deixá-los “na zona ou no cais do porto”. E mais: “a humanidade é débil mental”.


O jornalista Geneton Morais Neto, da Globonews apresentou no programa ALMANAQUE, uma entrevista em que Ziraldo levanta temas que merecem ser discutidos.
Sem medo de polêmica, o autor de livros infantis recordistas de vendagem lança um alerta aos pais: deixar filho adolescente ou pré-adolescente sozinho no quarto com um computador equivale a deixá-lo “na zona”. Deslumbrado com as maravilhas da Internet, Ziraldo faz esta ressalva: “Não se deve deixar computador no quarto do filho de jeito nenhum! O computador tem de ficar num lugar onde todo mundo passa”. Motivo: o mau uso que se faz da Internet pode atingir crianças e adolescentes.
“A humanidade - diz ele – é débil mental”.


Trechos da entrevista:


Pergunta - Artistas precisam de reconhecimento alheio. Você, a caminho dos setenta e oito anos de idade, ainda persegue este reconhecimento?


Ziraldo: ”Sou o rei da carência! Mas melhorei muito. Vou fazer uma revelação. Por que é que trabalho tanto? Por que é que não paro de trabalhar ? Fiz dez páginas para os trinta e cinco anos da Playboy. Fiquei até de madrugada desenhando. Minha mulher dizia: “Ziraldo,pare com isso! Ficar desenhando…Você não tem de provar nada…”. E eu: “Claro que não tenho de provar. Estou pelo prazer de fazer”.
“Mas aí faço uma “análise esquizofrênica” – que é a seguinte: acho que sou ótimo. Enquanto todo mundo não achar que sou ótimo, tenho de lutar para poder provar. “Você não está vendo que sou ótimo?”. Se disserem “você é mais ou menos”, eu tenho de fazer de novo.Só pode ser isso! Não sou workholic não.Gosto de fazer o que faço.Como diria Cervantes criando Dom Quixote: meu repouso é o campo de batalha”.


P - Você foi criticado recentemente porque disse que a internet é “um antro de débeis mentais”.Você mantém ou retira esta declaração ?


Ziraldo:
“Não! Eu mantenho! O pessoal que se chateou na internet é o pessoal que considera os internautas um clube. Não existe um clube dos internautas.O usuário da internet é a humanidade inteira. Não se pode dizer: “Sou um internauta. Você me respeite…”. O que é isso ? Já é uma forma de debilidade mental! Confirma a minha tese”.
“A internet vai mexer mais com o mundo do que a imprensa – de uma maneira extraordinária, fantástica. Hoje, não há uma informação que você procure que não esteja na internet! É inacreditável, uma coisa absurda. Mas o mal uso que fazem da internet é o mau uso que a humanidade faz da vida. A humanidade não sabe viver direito! A maioria do ser humano quer comprar feito. Não cria nada”.
“Como dizia Bernard Shaw, o homem de bom senso aceita o mundo como ele é : só os loucos querem mudar o mundo. Logo, todo progresso depende dos loucos. Isso é uma frase irônica do Bernard Shaw, mas o mundo caminha por causa dos cinco por cento que estão preocupados com o próximo, com o mundo, com o futuro”.
“Você veja a quantidade de jornais que se vendem por dia, numa população de cento e oitenta milhões de pessoas.O número de jornais que se vendem é mais ou menos a média de quem está pensando. Já na internet qualquer um entra. Eu estou mobilizado com um pessoal fazendo uma campanha : você ir para cama dormir e deixar o filho adolescente ou pré-adolescente no quarto com a internet ligada é melhor deixá-lo na zona ou no cais no porto – a filha, inclusive! Porque a internet é mais perniciosa e mais perigosa do que um bandido que vai pegar você. Diante de um bandido, você pode sair correndo. E, ali,você não grita socorro ao pai”.
“Um dos capítulos desse trabalho do pessoal quer avisar ao mundo que não se deve deixar computador no quarto do filho de jeito nenhum! O computador tem de ficar num lugar onde todo mundo passa. Porque você não sabe com que companhia o seu filho está andando. Acontece que – de madrugada – metade do mundo está acordada”.
”A quem você deixou o seu filho entregue ? É alguém que você não sabe quem é. Então, a internet é perigosa. Qualquer informação que você busca lá é sensacional. A internet é fundamental para o mundo. Não posso viver sem ela um segundo.Mas, o uso que faz da internet é o mau uso que se faz da vida! Não existe a categoria do internauta. Não é um clube.É a humanidade. E a humanidade é débil mental! Cinco por cento salvam a humanidade. O que é isso ? Agora, vão dizer: “Ziraldo falou que nós somos débeis mentais…”. Vocês são mesmo!”.

P - Você não teme ser acusado de olhar principalmente para o lado ruim, não para o lado bom da internet ?


Ziraldo:
“Acabei de falar com você : a maior dádiva que o ser humano recebeu é o chip.O dia em que ele saiu da válvula para o chip….A Galáxia de Gutemberg agora é a Galáxia da Internet. Tenho a máquina de escrever, mas tenho toda a parafernália de que preciso. Não se pode viver um segundo sem ela.Qualquer coisa que eu preciso encontro lá, na internet. Eu baixo música !”.
“Deus do céu, que coisa impressionante. Quero ver um quadro, vejo. Tudo o que tenho de livro…Tenho todas as enciclopédias que você possa imaginar, todos os dicionários.Se eu quiser desenhar um cavalo de corrida. Tenho pastas com recortes. Outro dia, eu estava precisei desenhar um camarada num periscópio para um cartum que fiz para a Playboy. Meus livros não tinham. Pedi: me dá aí o que tiver de periscópio. Veio tudo! O que é um periscópio,como funciona : em cinco segundos! Não há hipótese de eu ser acusado de achar que a internet é um mal. É um bem.Mas a humanidade cria o bem,a necessidade e,depois, o crime”.

P - Você acha que já se livrou da fama de machista ?


Ziraldo:
“Ah, já. Na verdade, não é a fama de machista. Não há jeito de você tirar de suas vísceras a certeza de que mulher foi um ser feito a seu serviço. Elas é que botaram na cabeça da gente: as tias, a mãe,as avós, as moças que faziam enxoval de casamento…Sua posição de achar que direitos são iguais e capacidade igual tem de ter a mesma remuneração, toda essa consciência de como deve ser esta convivência perfeita, você chega a ela pela razão,não pelo instinto…”
“Parece a todo mundo que um camarada que, instintivamente, tem um gesto de dominação sobre a mulher é machista. Não. É assim mesmo. É perigoso você falar sobre isso como é perigoso falar sobre a homossexualidade. Ainda que você acredite que esta não é uma qualidade nem um defeito do ser humano, mas uma característica, vão dizer : “esta frase que você fala é homofóbica!”. Você não sabe o que dizer. Porque podem achar homofobia!”.
“Já escrevi sobre esta coisa de nomear mal algo que parece justo mas que pode se perder pelo nome.Casamento entre homossexuais se perde pelo nome. Casamentos, no conceito que nós temos, são feitos na igreja,ainda são cristãos entre nós. É aquela coisa de casamento na igreja com Cristo. É casar com alguém do sexo diferente para procriar, para fazer família. O casamento tem essa coisa arraigada”.
“Se dois homossexuais querem viver juntos, sejam mulheres ou sejam homens, têm todo o direito. Os dois têm direito a todos os benefícios de uma união equivalente ao casamento mas deveria se chamar “união legal”. Sou a favor de união legal de homossexuais. Claro! Total e completamente. Mas não chamem de casamento. Porque não é casamento! Dizem :”Você também ? Você também”. Querem casar, mas este é detalhe de um direito líquido e certo – o de viver junto. É uma escolha que você faz”.
“Toda esse negócio de nome errado é engraçado. Fiz uma cartilha sobre trabalho infantil. “Ser contra o trabalho infantil”. Disse: “Pelo amor de Deus, não façam este negócio de ser contra o trabalho infantil! “. Trabalho dignifica o homem! Você diz a um cara da roça,no interior: “Sou contra que o teu filho trabalhe…” E ele dirá assim: “Você quer que eu crie malandro ? “. Sou contra é a exploração de mão-de-obra infantil! É este o nome da coisa! Mas os que são favoráveis à luta contra o trabalho infantil não admitem. Querem botar: “Sou contra o trabalho infantil”. Mas aí complica”.

P - Você foi duramente criticado porque pediu e recebeu do governo indenização por ter sido perseguido durante o regime militar. As críticas ainda irritam você ?


Ziraldo:
“Profundamente! Claro! Como é que vou explicar esta história ? Nenhum de nós – de nosso grupo – pediu esta indenização. O Sindicato dos Jornalistas naquela época era muito atuante. O filho de Nélson Rodrigues convocou o departamento jurídico do Sindicato dos Jornalistas para preparar,com auxílio do Marcelo Cerqueira e do Barbosa Lima Sobrinho – que tinha sido avaliador deste projeto – a relação de jornalistas que tinham tido jornais fechados. Elencou um monte e nós entramos. O Departamento Jurídico pediu que a gente anexasse documentos. Fomos até Niterói, para ver o que a polícia falava da gente. Pegamos todo o dossiê contra nós, a relação das prisões que tivemos, as bombas no Pasquim. Alguém montou tudo isso com a ajuda do Departamento Jurídico e foi entregue. E eu nunca mais falei disso na minha vida! “.
“Começou uma crítica- até de amigos da gente – muito violenta. Alguns de nós renunciaram a esta indenização. Mas eu não me interessei mesmo. Nunca perdi emprego por causa do golpe militar e da minha luta. Perdi as coisas que eu fazia :perdi a Turma do Pererê – a revistinha que eu fazia-, perdi O Pasquim,perdi o Cartum JS. Foram fechando as coisas que eu fazia, fora as prisões que a gente teve,fora as bombas no Pasquim,fora as ameaças”.
“Dezenove anos depois, recebo um telefonema dizendo: “Você vai fazer indenizado”. Ah,mas este negócio está rolando ? Falei: “Oh, que coisa boa…Se é um direito que tenho, manda vir”. O relator do meu processo descreveu um herói tão maravilhoso…Se você visse o relatório justificando minha indenização, eu não sabia que eu era esse herói…Fui aplaudido.
Quando fui saindo, numa entrevista, perguntaram o que é que eu estava achando. Eu disse: “Ah, um bando de bundas moles estão falando mal da gente.Porque, na hora da briga mesmo, ninguém se comprometeu. Agora vêm chamar a gente de canalha!”. Eu disse: “Ah,manda esses caras….”. Virou manchete de jornal. Virei um “canalha”. Quero dizer a você o seguinte: eu tinha de receber um milhão e duzentos, porque o processo corre desde o dia em que ele entra na pauta. Como ganhei a indenização, eles teriam de me pagar todos os atrasados de dezenove anos. Não recebi. Ninguém recebeu”.
“Determinou-se que o que eu ganhava na época equivalia a ganhar quatro mil reais hoje. Então, há cerca de dez,doze meses recebo quatro mil reais por mês. Com mil de aposentadoria do INSS, sou um aposentado aos 78 anos de idade de cinco mil reais por mês (…)Eu mereço,eu mereço. Mereço até mais do que isso. Mas nunca pedi, porque não gosto de ficar pedindo as coisas. Mas,se me pagarem este um milhão de duzentos mil de atrasados, vou aceitar. Eu teria de devolver pro Tesouro Nacional. Não tenho nem como devolver.Não existe uma forma jurídica de devolver este dinheiro, a não ser que eu dê para uma instituição de caridade”.

(*) Extraído do Blog do Geneton Morais Neto

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Aécio organiza megaevento em favor do candidato Serra, que sobe nas pesquisas



Estive cobrindo para o Blog a visita do candidato José Serra a Belo Horizonte. Após carreata do aeroporto até o centro, cerca de quatrocentos prefeitos, vice-prefeitos e lideranças municipais receberam o candidato no auditório da Associação Médica.

Também compareceu ao evento, de caras pintadas de verde e amarelo, muitos jovens, que foram capitaneados pela juventude do PSDB de BH, presidido por Gabriel Azevedo, sendo que o primeiro orador foi Adriano Faria, presidente estadual da Juventude tucana. Dentre os oradores, Maristela Kubitschek, filha do ex-presidente Juscelino; José Newton, presidente da AMM; Itamar Franco, Antonio Anastasia e Aécio Neves.

Aécio Neves abordou a intervenção de Lula na disputa ao governo mineiro ao agradecer a ajuda dos prefeitos à reeleição de Antonio Anastasia dizendo “Minas não se curva a intervenções” e afirmou que sua vitória só será completa com a eleição de Serra.

Aécio concluiu: sempre que o PT teve de optar entre os interesses partidários e os nacionais, ficou com os partidários, citando a oposição petista à eleição do ex-presidente Tancredo Neves, ao governo do ex-presidente Itamar Franco, ao plano real e à Lei de Responsabilidade Fiscal.

Dentro da estratégia da contra ofensiva às ações da cúpula do PSDB em favor do candidato José Serra e subida de Serra nas pesquisas eleitorais, a candidata do PT, Dilma Roussef desembarca em BH no sábado, quando fará carreata pela cidade.

Abaixo, dois artigos: o de Josias de Souza, sobre o evento e o de Fernandes Rodrigues dobre as pesquisas do 2º turno.

Aécio diz que sua vitória é ‘parcial’, falta eleger Serra


(*) Josias de Souza

Acusado pelo PSDB federal de fazer “corpo mole” ao longo do primeiro turno, Aécio Neves tornou-se peça é, agora, 100% José Serra.

Arrastou para um evento pró-Serra três centenas de prefeitos. O discursar, Aécio disse que seu triunfo em Minas está incompleto.

Elegeu-se senador. Içou Itamar Franco à segunda cadeira de Minas no Senado. Fez o sucessor: Antonio Anastasia. Porém, falta “a vitória de José Serra”, disse.

Tenta-se reverter o placar na prorrogação. Atribui-se aos prefeitos papel de relevo. São eles que, na ponta, estão mais próximos do eleitor.

Com uma bandeira de Minas pendurada no pescoço, Serra afagou a prefeitada. Disse que, eleito, zelará pela integridade do FPM (Fundo de Participação dos Municípios).

É desse fundo que sai o grosso das verbas que pingam nas arcas municipais. Prometeu um rosário de obras para Minas.

Tratou o PAC como peça de marketing: "Obras não se constroem com saliva, com anúncio de pedras fundamentais, com reinaugurações, se faz é com recursos".

No primeiro turno, Dilma Rousseff amealhou nas urnas mineiras 1,75 milhão de votos a mais que Serra.

Empurrado por Aécio, cuja popularidade rivaliza com a de Lula em Minas, Serra espera reveter o placar adverso no segundo turno.

Vai conseguir? As urnas dirão. Diz a lenda que o eleitor mineiro é indecifrável. Nunca é o que parece. Sobretudo quando parece o que é.

Semanas antes da eleição do primeiro turno, parecia caído de amores por Hélio Costa. Na reta final, foi do provável ao impossível. E deu Antonio Anastasia.

(*) Extraído do Blog do Josias de Souza



Pesquisas mostram início de uma possível onda pró-Serra

(*) Fernando Rodrigues


As 4 pesquisas divulgadas até agora sobre a disputa pelo Palácio do Planalto mostram a formação de uma possível onda pró-José Serra (PSDB). Ainda serão necessárias outras sondagens para qualificar o solavanco sofrido por Dilma Rousseff (PT), mas é nítido que neste segundo turno a petista perdeu “momentum”.
Eis um resumo das 4 pesquisas já divulgadas neste segundo turno:


* CNT/ Sensus (11-13.out) – Dilma 46,8% X 42,7% Serra (diferença entre ambos: 4,1 pontos) (margem de 2,2 pontos percentuais)
* Ibope (11-13.out) – Dilma 49% X 43% Serra (diferença entre ambos: 6 pontos) (margem de 2 pontos percentuais)
* Vox Populi (10-11.out) – Dilma 48% X 40% Serra (diferença entre ambos: 8 pontos) (margem de 1,8 ponto percentual)
* Datafolha (8.out) – Dilma 48% X 41% Serra (diferença entre ambos: 7 pontos) (margem de 2 pontos percentuais)


Essas pesquisas não são comparáveis por serem realizadas com metodologias diferentes. Mas é possível dizer 1) todas apontam uma diferença sempre abaixo de 10 pontos entre Dilma e Serra e 2) a diferença entre a petista e o tucano parece se estreitar cada vez mais.
Dá para dizer que uma virada vai acontecer? Não, não dá. Mas seria temerário agora fazer qualquer tipo de prognóstico.
Ao que tudo indica, tem surtido efeito a estratégia tucana de comparar biografias e de atrair o eleitorado mais conservador.
Do seu lado, Dilma tem mostrado pouco o presidente Lula em suas propagandas. Só quando ela apareceu intensamente ao lado do seu padrinho político é que registrou altas nas pesquisas durante o primeiro turno.
Mas agora paira uma dúvida sobre a equipe de campanha petista: não se sabe se a imagem presidencial funcionaria mais como um remédio ou um veneno –ao reforçar a percepção de que a candidata governista não consegue andar com as próprias pernas.

Extraído do Blog do Fernando Rodrigues

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

IMAGINE LENNON SETENTÃO


No aeroporto de Heathrow, a empregada míope de uma companhia aérea estrangeira pega o passaporte e lê a meia voz, com um sorriso discreto:
— John Winston Ono Lennon. Engraçado... O senhor tem o mesmo nome do John Lennon. É uma homenagem a ele?
E o passageiro grisalho, de cabelos curtos, com o british humour que aperfeiçoou ao longo do tempo:
— Sim. Meus pais eram fãs dos Beatles, mas eu gosto mais dos Rolling Stones...
O diálogo soa um tanto fantasioso mas bem que poderia acontecer, neste 2010 em que o ídolo chegaria aos 70 anos de idade, como um dos maiores e mais expressivos nomes da pop music internacional, amado por milhões de pessoas em todo o mundo.
Comecemos por lembrá-lo a partir de Liverpool, cidade localizada ao norte da Inglaterra. Entre os pontos de interesse turístico, o mais visitado é a casa onde, por 17 anos, viveu John Lennon (Mendips, 251 Menlove Avenue, Woolton). São várias as histórias sobre a infância do menino criado pela tia, apaixonado por música e chá inglês. Anedotas contadas com muita animação pelos guias que diariamente recebem centenas de fãs dos Beatles.
O que se sucede a partir de então é ainda mais conhecido. A amizade e a luminosa parceria com Paul McCartney, o sucesso, a histeria das garotas... Em seguida, o casamento com Yoko Ono e a dissolução do conjunto que revolucionou a música (dois fatos que estariam intimamente ligados, segundo alguns).
A morte de Lennon, em dezembro de 1980, choca o mundo pela violência com que acontece, quando o psicopata Mark Chapman assassina a figura que tanto admira, como fazem aqueles que doentiamente destroem o objeto da paixão. Era o fim do músico e o começo do mito, um herói segundo o modelo que a Grécia nos legou. Assim como outras personalidades que entrariam para a História − Marilyn Monroe, James Dean, a Princesa Diana −, John Lennon deixou a vida de forma prematura e trágica, imortalizando-se como eternamente jovem, no imaginário daqueles que o cultuam.
Bem que o músico poderia ser hoje um saudável setentão. Pensar em como viveria é celebrá-lo como a grande lenda em que se transformou: teríamos um álbum por ano? Inúmeros concertos ao redor do globo
Um revival com os sobreviventes dos Beatles? John estaria magro, em forma, com os cabelos ainda longos? Ainda casado com Yoko?
Por falar nela…
Em uma entrevista concedida ao jornal inglês Daily Mirror neste fim de semana, a viúva crê que o marido vibraria com as inúmeras possibilidades de comunicação trazidas pela Internet. Yoko garantiu: Lennon defenderia a paz por meio de blogs, e teria, com certeza, um twitter. Alguma coisa como: proteste contra a política externa dos Estados Unidos em 140 caracteres. Será?
Para os fãs mais apaixonados, difícil imaginá-lo sem a aura mitológica. Mas pode ser que Lennon se estivesse cansado e, por consequência, afastado da roda viva musical. Recusaria todas as propostas de shows ou participações em programas de tevê. Talvez se sentisse esgotado e entediado. E seria um dos poucos ídolos a nunca ter-se sentado no sofá da Oprah...
A verdade é que quase trinta anos após a fatídica noite em frente ao Dakota Building, John Lennon permanece vivo na música que deixou. As celebrações dos 70 anos presentearam os fãs com o relançamento de oito álbuns do compositor e cantor e lhe renderam homenagens por todo o mundo. Em Liverpool, os shows que começaram neste fim de semana seguem até 8 de dezembro, data da morte de Lennon.
Tão forte quando o seu legado na música é a força da imaginação de pessoas do mundo inteiro, que ao se lembrarem do beatle mais famoso e mais polêmico, tomaram neste 9 de outubro um minuto para pensar: “Imagine como estaria hoje o John Lennon setentão”…


Mariana Caminha é formada em Letras pela UnB e em jornalismo pelo UniCEUB. Fez mestrado em Televisão na Nottingham Trent University, Inglaterra. É a nova do Blog do Noblat

Infantaria Dilma-2010 lembra a artilharia Alckmin-2006

Foto: Moacyr Lopes Jr/Folha


Debate: há 4 anos, agressividade fez tucano cair nas pesquisas

O palco foi o mesmo: os estúdios da Rede Bandeirantes. De novo, o primeiro debate presidencial do segundo turno. Novamente, petê de um lado e peéssedebê do outro. Em outubro de 2006, coube a Geraldo Alckmin socar o baço.

Já na primeira pergunta, quis saber de Lula: "De onde veio o dinheiro sujo" que os “aloprados do PT” usaram para tentar comprar o “dossiê fajuto" contra tucanos? Neste outubro de 2010, foi Dilma Rousseff quem esmurrou o fígado.

Na questão inaugural, acusou o comitê de José Serra de alvejá-la com “calúnias, mentiras e difamações”. E pespegou: “Você considera que essa forma de fazer campanha, que usa submundo, é correta?”

Há quatro anos, Lula saíra pela tangente. Dissera que ele é quem tinha interesse em esclarecer o "trambique todo" do dossiêgate. Um “plano maquiavélico” que só rendera dividendos à “candidatura do meu adversário".

Serra também tangenciou a resposta. Disse que o “caluniado” da campanha é ele, não Dilma: “Até blogs com o seu nome fazem ataques à minha família, aos meus amigos”. Declarou que a rival confunde “verdades e reportagens com ataques”. Citou o ‘Erenicegate’ e a polêmica do aborto.

“Você disse, [em sabatina] na Folha, filmada, que era a favor da liberação do aborto. Depois disse o contrário. As pessoas cobram coerência. Não é estratégia, se trata de não ter duas caras”, fustigou. “Você não tem duas, mas mil caras”, Dilma devolveu.

Em 2006, Alckmin repetiu a mesma pergunta à saciedade: “De onde veio o dinheiro?” A certa altura, Lula abespinhou-se: "Não sou policial, sou presidente da República". Insinuou que seu contendor tinha "saudades do tempo da tortura".

E Alckmin: "Não teve nem a curiosidade de perguntar para seu churrasqueiro?" Uma alusão a Jorge Lorenzetti, um dos “aloprados” pilhados no malfeito de R$ 1,7 milhão. Dilma também martelou a polêmica do aborto a mais não poder.

E, a exemplo de Alckmin, levou aos holofotes uma personagem da cozinha de Serra. “Sua esposa, Mônica Serra, disse o seguinte: ‘A Dilma é a favor da morte de criancinhas’.” Serra não desmentiu a passagem, ocorrida numa favela do Rio.

Dilma manteve-se no ataque por duas horas, o tempo de duração do debate. Lembrou que, como ministro da Saúde, Serra “regulamentou” o aborto nos hospitais do SUS, para os casos em que a gravidez decorre de estupro.

Serra respondeu que apenas disciplinou procedimento previsto em lei desde 1940. E Dilma: “Normatizou e eu concordo. A questão é: Vamos para a hipocrisia e fingir que não vemos as 3,5 milhões de mulheres que praticam o aborto em condições precárias e vão para o SUS? Vamos tratar ou prender?”

Espreme daqui, esquiva dali, Serra soou assim: “Nunca defendi liberação aborto. Você defendeu. De repente passa a dizer o contrário e a se vitimizar com isso. Com relação a Deus, a mesma coisa. Antes, disse que não sabe bem se acredita. Depois, vira uma devota”.

Sempre que precisou sair das cordas, Serra esfregou Erenice Guerra na face de Dilma. Uma, duas, três vezes: “A chefe da Casa Civil, seu braço direito, organizou um grande esquema de corrupção. E você não tem nada a ver, é tudo alheio a você”.

Numa resposta sobre segurança pública, Dilma injetou um tema incômodo para o tucanato. Disse que, em vez de falar de Erenice, Serra “deveria responder sobre Paulo Vieira de Souza, seu assessor que fugiu com R$ 4 milhões de sua campanha”. Serra fingiu-se de morto. E tome Erenice.

Antes de soar o gongo do terceiro bloco, Dilma ensaiou: “No que se refere a Erenice, fico indignada com a contratação de parentes e amigos com critérios que não sejam técnicos. Gostaria de discutir detalhadamente isso no próximo bloco”.

Sobreveio o intervalo comercial. No retorno, Dilma esqueceu a promessa. Nada de Erenice. Privilegiou o ataque à defesa. Do pescoço para baixo, só enxergou canela em Serra. Colou a imagem de FHC no peito do rival.

Mimetizando o Lula de 2006, grudou em Serra a pecha de privatista. Insinuou que planeja privatizar as reservas do pré-sal. Pior: a própria Petrobras. Acusou-o de interromper, em São Paulo, “dois bons programas” do antecessor Geraldo Alckmin.

Pôs em dúvida a promessa de Serra de dar continuidade aos principais pojetos sociais de Lula: Bolsa Família, Prouni e Minha Casa, Minha Vida. Serra defendeu FHC e as privatizações da era tucana. E repetiu que manterá o que estiver dando certo.

Afora a atmosfera bélica, outro detalhe igualou 2010 a 2006. O debate deste domingo teve como pano de fundo a primeira pesquisa Datafolha feita no segundo turno. Considerando-se os votos válidos, Dilma soma 54%. Serra, 46%.

No debate realizado há quatro anos, o primeiro Datafolha registrava placar idêntico: Lula, 54%. Alckmin, 46%. Diferença de oito pontos percentuais. Três dias depois, em nova pesquisa, o Datafolha detectou uma oscilação de Lula para o alto: de 54% foi a 56%. Alckmin deslizou para baixo: de 46% para 44%.

Nas sondagens seguintes, Lula tomou o elevador. Alckmin obteve nas urnas menos votos do que amealhara no primeiro turno. O marqueteiro de Alckmin, Luiz Gonzalez, o mesmo de Serra, atribuiria o infortúnio de 2006 ao excesso de veneno de Alckmin.

A toxidade de Dilma resultará no mesmo efeito bumerangue? O tucanato acha que sim. O petismo avalia que sucederá o oposto. Resta aguardar pelas próximas pesquisas.

Extraído do blog Josias de Souza - Folha de S. Paulo 11/10/2010

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Clima tenso


(*) Merval Pereira


Há na campanha de Dilma Rousseff um ambiente político de crise que não se dissipou com a reunião do Palácio da Alvorada do presidente Lula com os aliados. Havia uma certeza de vitória que o resultado das urnas transformou em receio de uma derrota no segundo turno.
Os votos que faltaram para a definição no primeiro turno são explicados por diversas óticas, e nem mesmo o presidente Lula escapa das críticas.


Procuram-se culpados, e em especial há uma desconfiança entre os aliados, especialmente o PMDB, mas não apenas ele, e o PT, antecipando as dificuldades que eram pressentidas para a formação do governo.


Sentindo-se excluídos da campanha nas últimas semanas, os aliados tinham a impressão de que o governo já considerava a eleição ganha e os petistas formavam um núcleo duro em torno da candidata, tentando marcar posição num futuro governo.


Antônio Palocci, José Eduardo Cardozo e outros petistas centralizaram de tal forma as decisões da campanha que ninguém mais participava do processo.
A vitória que parecia certa impediu que os aliados reclamassem com vigor, mas o PMDB e os outros partidos da base aliada internamente já imaginavam que esse poderia ser o tratamento em um futuro governo.


Com a reversão de expectativas, os aliados já estão querendo se posicionar em uma situação mais de força, o que se reflete em algumas mudanças na coordenação da campanha.
A chegada de Ciro Gomes, do PSB, é um sinal de que os aliados terão mais importância na definição estratégica do segundo turno.


Também as férias do ministro da articulação política, Padilha, vem do fato de que ele tem um bom diálogo com os partidos aliados.
Na análise do PMDB, os grandes movimentos da campanha não foram feitos pelos políticos, mas pelos diversos setores da sociedade, o que demonstra uma independência que não estava nos planos do governo.


O tal fator de bem-estar da população foi suficiente para colocar a candidata oficial do nada para um patamar de 40% dos votos.
Mas o movimento contra a legalização do aborto surgiu espontaneamente dentro dos movimentos religiosos e continua como um fator muito ativo nesse segundo turno, sem que tivesse sido provocado por nenhum marqueteiro tucano. Também a rejeição às denúncias de corrupção no Gabinete Civil com Erenice Guerra mudou votos na reta final. Todas questões morais que mexeram com o eleitorado.


A candidatura de Marina Silva surpreendeu a todos, roubando pontos preciosos dos dois ponteiros. Dilma perdeu na reta final os pontos que poderiam levá-la para uma vitória no primeiro turno, e Serra caiu do patamar de 40% que manteve grande parte da campanha e que foi o tamanho que Geraldo Alckmin teve no primeiro turno de 2006.
O PMDB tem uma avaliação de que esse caminho ficou aberto para Marina também por um erro estratégico do próprio Lula que, considerando a parada ganha, deu asas à sua obsessão com o Senado.


De um lado, de destruir os inimigos que escolheu, de outro de conseguir uma maioria tranqüilizadora. Começou a fazer campanha para aliados em detrimento de outros.
Para o PMDB, o exemplo da Bahia é claro: o peemedebista Geddel Vieira Lima perdeu a eleição, mas fez 1 milhão de votos, e foi totalmente ignorado pela campanha de Dilma, que se dedicou com exclusividade à vitória do governador Jacques Wagner do PT.


O resultado foi que Dilma teve no estado a mesma percentagem de votos que o governador baiano, e deixou de receber uma parte ponderável dos votos de Geddel. Disciplinado, o peemedebista já anunciou ontem que apoiará Dilma.
A opção preferencial por um aliado em cada estado fez com que a campanha de Dilma abrisse mão de outros palanques, o que pode trazer conseqüências para o segundo turno.
Houve também uma prioridade de Lula em pedir votos nos estados para o Senado, alegando que Dilma precisará de um apoio parlamentar seguro, como se ela já estivesse eleita.


Os partidos aliados, em especial o PMDB, estão fazendo questão de divulgar a boca pequena que há insatisfação dentro da aliança governista e, mais que isso, que há uma real preocupação do governo quanto ao resultado final da eleição neste segundo turno.


A cara preocupada do candidato a vice Michel Temer no pronunciamento que deveria ser da vitória e parecia ser o de uma derrota que não aconteceu, refletia esse sentimento. O PMDB é dos que acham que vingança é um prato que se come frio.

(*) Extraído do Jornal O Globo de 07/10/2010

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Anastasia, reeleito: “Minas disse um não à mentira e falsas promessas”


Reeleito em primeiro turno com 62% dos votos válidos Antonio Anastasia diz que resultado das urnas é a vitória da verdade


O governador reeleito Antonio Anastasia fez um pronunciamento emocionado na noite deste domingo agradecendo os mais de 6,2 milhões de votos que recebeu dos mineiros. Antonio Anastasia afirmou que os mineiros elegeram os candidatos que representam a verdade e aqueles que têm mãos limpas e corretas para trabalhar por Minas Gerais. Ele ressaltou, ainda, que as urnas falaram um “não alto à mentira e às falsas promessas”. A totalização de votos, divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), confirmou que Antonio Anastasia foi reeleito com cerca de 62% dos votos válidos, que representam mais de 6 milhões de votos.
“Essa nossa vitória representa a vitória da verdade, a vitória do bem, a vitória daqueles que defendem o que é certo, aqueles que têm as mãos limpas e corretas para trabalhar por nosso Estado. Foi um não de Minas, um não alto, rotundo, firme, contra a mentira e as falsas promessas. Minas Gerais não admite ilusões, não admite a demagogia, e, da mesma forma, nós, mineiros, falamos alto”, enfatizou Antonio Anastasia, ovacionado por centenas de pessoas que estiveram no comitê da campanha, na avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte.
O governador foi recebido com festa nas ruas de Belo Horizonte. Ao lado do vice-governador eleito, Alberto Pinto Coelho, Antonio Anastasia agradeceu o empenho de todos aqueles que contribuíram para a campanha vitoriosa da coligação “Somos Minas Gerais”.

Senadores eleitos
Antonio Anastasia agradeceu aos senadores mineiros eleitos por Minas Gerais, o ex-governador Aécio Neves e o ex-presidente Itamar Franco, com quem percorreram o Estado nesses 90 dias de campanha. Aécio Neves foi eleito com 39,5% dos votos e Itamar Franco com 26,7% votos.
“Queria agradecer, aos nossos dois senadores, Itamar Franco e Aécio Neves. A eles, vitoriosos, também o meu abraço e nosso agradecimento por essa campanha tão bela”, disse. E completou agradecendo também a todos os mineiros. “Essa vitória, eu tenho que dividi-la com todos. Os mineiros nos escolheram, mas eu tenho que agradecer aqui a todos que trabalharam na campanha”, disse Antonio Anastasia.


Empenho dobrado
O governador reeleito também comemorou o resultado das eleições presidenciais, que colocaram o candidato da coligação “Somos Minas Gerais”, José Serra, no 2º turno. Anastasia fez um chamamento a todos os seus apoiadores para redobrarem os esforços para eleger Serra.
“Vamos continuar trabalhando firme, meus amigos, porque agora, vamos ao 2º turno na eleição federal, e vamos, também, mostrar uma virada como mostramos aqui. Minas Gerais saberá mostrar isso de maneira muito firme”, disse Anastasia.


Homenagem
Antes de iniciar o pronunciamento, o governador reeleito pediu um minuto de silêncio aos presentes e manifestou pesar pelo falecimento, hoje, do ex-deputado Aécio Cunha, pai do ex-governador Aécio Neves. Anastasia relembrou o passado político de Aécio Cunha e a sua integridade como homem público.
“Gostaria de fazer, em nome dos mineiros, esse registro de pesar à família do ex-governador Aécio, às suas irmãs e a ele, e um registro de pesar de todos nós. Naturalmente, esse falecimento torna a nossa vitória uma vitória bonita, mas com o registro da tristeza pela perda desse grande mineiro que nos inspira permanentemente”, disse Anastasia.


Experiência
Antonio Anastasia tem 49 anos e há 26 anos dedica-se à administração pública, participando da vida política de Minas. Atuou em importantes momentos da história do Estado, como a Constituinte Mineira, entre 1988 e 1989, e, desde então, sua vida profissional é dedicada à administração e à defesa dos interesses de Minas.
Mestre em Direito Administrativo, Antonio Anastasia é professor da Universidade Federal de Minas Gerais há 17 anos e funcionário de carreira da Fundação João Pinheiro. Antonio Anastasia foi secretário-adjunto de Estado da Cultura e do Planejamento, secretário-executivo do Ministério do Trabalho e Ministério da Justiça, secretário de Estado de Defesa Social e vice-governador. Em março deste ano, com a desincompatibilização do governador Aécio Neves, assumiu o cargo de governador de Minas Gerais.


Campanha
A vitória de Antonio Anastasia no primeiro turno das eleições é resultado de uma virada histórica e surpreendente na disputa ao governo de Minas Gerais. O governador iniciou a campanha eleitoral, em julho deste ano, com um patamar de 17% das intenções de voto, enquanto seu principal adversário contava com uma média de 45%, de acordo com os principais institutos de pesquisa.
O crescimento da candidatura de Antonio Anastasia à reeleição começou a ser observado a partir de meados de julho, quando as viagens às cidades de todas as regiões do Estado foram intensificadas e o eleitor mineiro começou a identificá-lo como atual governador de Minas e responsável, ao lado de Aécio Neves, como um dos principais responsáveis pelos avanços observados no Estado ao longo dos últimos anos.


Pesquisas
No início de agosto as medições dos principais institutos de pesquisa apontavam o crescimento gradativo da candidatura de Antonio Anastasia e uma queda acentuada da vantagem de seu principal adversário. Com o início da propaganda eleitoral pelo Rádio e TV e a divulgação das principais propostas do plano de governo, os eleitores mineiros reconheceram em Antonio Anastasia o candidato mais indicado para conduzir o futuro do Estado nos próximos quatro anos. A grande virada ocorreu no final do mês de agosto, quando o governador assumiu a liderança nas intenções de voto no Estado. No dia 28, o Ibope registrou um crescimento de oito pontos da candidatura do governador, em relação à medição anterior, que passou a deter 35% do total.
A partir daí, todos os institutos passaram a registrar a consolidação desta liderança. No dia 11 de setembro, o Datafolha apontou empate técnico, para registrar a virada no dia 17 de setembro. Desde então, esta liderança foi sendo consolidada até resultar, às vésperas das eleições, em uma vantagem de pelo menos 15 pontos de vantagem sobre Hélio Calixto Costa.


(*) Fonte: Coligação “Somos Minas Gerais” – 03/10/2010 – Assessoria de Imprensa

domingo, 3 de outubro de 2010

Um voto nas idéias do Prof. Anastasia!

O Professor José Augusto condecorando o Professor Antonio Anastasia em Sessão Solene da Câmara Municipal de Barbacena

Hoje, pela primeira vez na vida, irei votar para o cargo de governador, no caso no professor Anastasia, com 100% de convicção da certeza de estar fazendo o melhor para Minas Gerais e para Brasil.

Há quase duas décadas digo em sala de aula e em pronunciamentos que sou discípulo das teses administrativas defendidas pelo professor Anastasia. Idéias que no estado de Minas Gerais saíram da teoria para a prática, tornando-se modelo nacional.

É um voto que extrapola o fato do professor Antonio Anastasia ser meu colega e ter me honrado com um cargo no governo. Desde a convenção partidaria cobrimos para o Blog em várias regiões do estado os eventos da campanha eleitoral. Vale a pena acessar os artigos anteriores sobre as eleições gerais de 2010, sobretudo os que analisam as pesquisas eleitorais.

As últimas pesquisas, divulgadas ontem, dia 02, para o governo do estado apresentam os seguintes números - Pelo Ibope: Antonio Anastasia, 48%; Hélio Costa 33%. - Pelo Datafolha: Antonio Anastasia 47%; Hélio Costa, 36%. Pelos perspecdtivas dos dois principais institutos de pesquisa Antonio Anastasia deverá ser reeleito governador no primeiro turno.

Abaixo, republico um dos três artigos que escrevi em abril, quando da posse do governador Anastasia, que tomei como base em entrevista que concedi na última quinta-feira à rádio Montanhesa, da cidade de Ponte Nova.

Barbacena e o governador Anastasia!

A maioria das cidades de Minas já homenageou o professor Antonio Anastasia, sobretudo em razão dos programas idealizados por ele no governo Aécio Neves: o “Choque de Gestão” e “Estado para Resultados”, que resgataram a credibilidade do Estado perante a nação.

Mas, Barbacena, mais uma vez fez história, pois foi a única cidade a propor um voto de confiança ao programa “Choque de Gestão”, no ano de seu lançamento, quando muitos colocavam em dúvida os resultados que adviriam das teses do professor Anastasia, como jurista e catedrático.

Em 2003, como vereador, apresentei a proposta que foi aprovada por unanimidade. Dos anais da Câmara transcrevo trechos da minha justificativa:

“....Sr. Presidente, Srs. Vereadores nos dias de hoje, sob a estruturação de uma equipe coordenada pelo secretário Antônio Anastasia, o governo Aécio Neves coloca em prática um dos objetivos maiores de seu governo: a reforma administrativa.

Minas Gerais, um dos mais importantes estados da federação, grande força econômica e política do país, não poderia sobreviver com uma máquina governamental desarticulada, anacrônica e desestimulada.

A sociedade clama pela construção de uma administração moderna, selecionada pelo mérito, capacitada e treinada, submetida ao sistema de carreira, em que cada servidor tenha oportunidade de construir um destino, para que toda a sua atividade seja concentrada na grande obra da construção política, do equacionamento e solução dos graves problemas da sociedade.

Sr. Presidente, Srs. Vereadores, o Presidente do Senado, Dr. José Sarney, já disse que governar é resistir. Resistir ao pessimismo e ter coragem para missões difíceis. Uma delas é sacudir o monstro burocrático.

Toda mudança é polêmica, os aplausos certamente virão no futuro, mas nós, de Barbacena, aplaudimos e incentivamos no presente, confiando no futuro, no sucesso da reforma administrativa, que visa colocar a máquina administrativa de Minas Gerais nos trilhos do progresso e do desenvolvimento.

Portanto Senhores, pelo apoio a cidade de Barbacena no passado recente, e pelo atual trabalho em prol do Estado de Minas Gerais, estamos propondo um voto de congratulações para com o trabalho desempenhado pelo secretário de Estado, Dr. Antônio Augusto Junho Anastasia.

Por fim, solicito Sr. Presidente, que V. Exa. comunique o Exmo. Sr. Governador Aécio Neves da presente proposição....”

Esta proposição resultou na condecoração do então Secretário Antonio Anastasia, com o “Diploma de Honra ao Mérito Legislativo” e a “Medalha Sobral Pinto”. Como autor, fui o orador da Sessão Solene que o homenageou, quando ratifiquei ser discípulo de suas idéias.

À época, não imaginava que o sucesso de suas teses de gestão pública o levaria a governar Minas Gerais. Confesso que em sala de aula, ao citar os seus pensamentos dentro do direito administrativo, previa sim, que ele se tornaria ministro do Supremo Tribunal Federal. Quem sabe um dia!

Mas, o destino fez com que ele entrasse na vida política partidária, pois os sucessos de suas teses extrapolaram todas as expectativas, levando-o a ser candidato a vice-governador. No meu discurso durante a campanha, quando o recebemos como candidato, eu afirmava que ele seria governador em 2010, caso Aécio Neves fosse reeleito.

Abro um parênteses, para lembrar que esta previsão não tirou, quando de sua posse, a nossa emoção, que também notei nos colegas muito mais íntimos dele, que como eu, já assistiu inúmeras de suas palestras e o acompanhamos em visitas a várias cidades, como o Daniel, o José Emílio e o Cel. Luiz Carlos Martins, seja em viagens oficiais ou nas campanhas eleitorais de 2006 e de 2008.

O histórico voto de confiança da cidade de Barbacena, em relação ao trabalho do professor Anastasia, me veio à memória no plenário da Assembléia, pois na solenidade de posse sentei ao lado do deputado Bonifácio Mourão, que enaltecia a cultura jurídica do governador, que o assessorou quando este foi relator da Constituição Mineira.

Ele lembrava que o conheceu como servidor da Fundação João Pinheiro, dizendo que uma sobrinha o indicou para a sua assessoria. E concluiu: “aquela foi a única vez que ele foi indicado para uma função. Para os demais cargos que ocupou, Anastasia foi convocado.”

Coincidentemente foi durante a Constituinte de 1989, que tomei conhecimento do trabalho de Anastasia e da secretária Maria Coeli Simão Pires, que serviram-nos de exemplos em 1990, quando fui secretário da Mesa da Câmara que elaborou a Lei Orgânica do Município que teve como relator, Toninho Andrada e presidente Marco Antônio de Lima Araújo.

E no ano passado, o professor Anastasia tornou-se Cidadão Honorário de Barbacena, outra homenagem aprovada por unanimidade, através de justificativa do edil Amarílio de Andrade. Portanto, desde o governo Hélio Garcia (1991-1994), o hoje governador Anastasia, já prestou relevantes serviços à Barbacena, que estão documentados nos históricos anais da Câmara Municipal.

(*) artigo publicado no Jornal Correio da Serra de 27 de abril de 2010

Dr. Andradinha e os 45 anos da Unipac


Republico este artigo em razão do início na última semana dos festejos pelos 45 anos de fundação da hoje Universidade Presidente Antonio Carlos – Unipac, um educandário que nasceu graças ao idealismo do reitor Bonifácio Andrada.

A Unipac ultrapassou os limites de Barbacena, cortou as montanhas das Minas e se instalou em todas as regiões das Gerais.

Em 1993, como vereador, eu apresentei requerimento que homenageou a instituição, que foi aprovado por unanimidade. Na época, o Jornal Correio da Serra cobriu a entrega do Diploma da Câmara Municipal ao reitor. Veja o requerimento 089/2003:

Apresentamos votos de louvor a Universidade Presidente Antônio Carlos – Unipac, através de seus integrantes que apoiam, coordenam e supervisionam a atividades complementares, de extensão e de pesquisa realizadas pelos acadêmicos da instituição.

J U S T I F I C A T I V A

Dispõem os artigos 52 e 43, inciso VII, da Lei 9.397 , de 20 de dezembro de 1996, a Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

“Art. 52: - As universidades são instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa extensão e de domínios e cultivos do saber humano (...)”

“Art. 43 – A Educação superior tem a finalidade:

(...)

VII – promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica na instituição.”

Como se depreende da leitura do primeiro dos artigos citados, a Universidade se sustenta sobre três pilares: a pesquisa, o ensino e a extensão.

Com o primeiro, a universidade deve gerar o saber, através de seus departamentos de pesquisa, de seus cursos de pós graduação e até mesmo dos de graduação, onde a pesquisa também deve ser feita observando o seu nível.

O Conhecimento científico, o filosófico, o tecnológico e o relacionamento com a área de letras e artes, abrangendo todo o conhecimento humano, devem ser levados à graduação, visando à formação de profissionais qualificados para atender às demandas da sociedade e à formação de novos elementos – que possam, por sua vez, continuar o desenvolvimento da pesquisa e o cultivo do saber humano.

Tudo isso, no entanto, teria valor apenas relativo, se deixasse de contemplar o terceiro elemento sobre o qual se deve fundamentar a Universidade, ou seja, a extensão, conceituada no inciso VII do art. 43, acima descrito. É pela extensão, uma das finalidades do ensino superior, que o conhecimento gerado pela Universidade extrapola seus muros e é levado à população, o que não permite que a escola superior se transforme numa torre de marfim, fechada sobre si mesma, auto-suficiente, ignorando o mundo em que se insere, enfoca o cardeal Dom Serafim Fernandes de Araújo.

O Projeto Filosofando, do curso de Direito, em que os alunos, desde o curso básico, realizam atividades complementares, na área de Ciência Política, junto a órgãos do Poder Executivo, junto ao Poder Legislativo e junto ao Poder Judiciário, com visitas e palestras de autoridades civis, militares e religiosas, com estágios na Câmara Municipal, no Fórum, na delegacia de Polícia, no Manicômio Judiciário no 9o Batalhão de Polícia Militar, dentre outros, marcam um avanço na parceria Universidade/ Comunidade.

Justificando, a defesa dos direitos da população menos favorecida é a proposta do “Núcleo de Práticas Jurídicas”, que promove a formação de profissionais de Direito atentos às injustiças sociais, onde os alunos atendem cerca de 5 mil pessoas anualmente. A Escola de Aplicação Santo Agostinho é oferecido ensino gratuito a 180 jovens, dentro de uma experiência pioneira em que os acadêmicos coordenam a escola.

Experiência idêntica acontece no projeto Unipac Criança que atende a crianças carentes de pré-escolar, que são educadas por profissionais dos diversos segmentos da universidade, com tratamento personalizado às suas famílias. Também o Projeto Mudala fez em 4 anos o índice de analfabetismo despencar, formando 1.500 pessoas que foram incluídas na sociedade, sendo que os acadêmicos estagiam também em escolas públicas e particulares.

A Organização Assistencial Popular criou a Casa Social – que em parceria com a universidade integra cerca de 50 acadêmicos em programas de inclusão social. Programa de Bolsa de Estudos e de Trabalho, dão oportunidades para que alunos que têm dificuldades em pagar a mensalidades estudem com subsídios.

O Instituto Conde de Prados levanta dados sócios-econômicos relativos à sociedade, como o acompanhamento semanal do custo da cesta básica. A Empresa Júnior da FACE também é uma realidade que agrega os acadêmicos frente ao mercado.

Na área da saúde, cerca de 300 estudantes atendem a mais de 16 mil pacientes mensalmente no Hospital Escola, que tem como proposta resgatar a relação médico-paciente no atendimento ambulatória, onde a população menos favorecida pode também realizar, gratuitamente, qualquer tipo de exame.

A clinica de saúde é exemplo similar. Criada no semestre passado já é um sucesso e vem atendendo a população especialmente na fisioterapia, fonodiologia e psicologia, dentre outras atividades.

Em anexo, o trabalho acadêmico “Ecus do Reflexun Universitário”, publicado na imprensa local, que retrata a opinião dos universitários e também justifica o voto de louvor aos seguintes professores participantes: Bonifácio José Tamm de Andrada, Paulo José de Araújo, Cleyde Maria Rocha Marks, José da Paz Lopes, Pedro Paulo Costa Tasca, Frederico Jardim de Oliveira, Terezinha de Abreu Pereira, Enio Marcos Fernandino, José Orlean da Costa , Jairo Furtado Toledo, Maria José Coelho; Maria José Gorini da Fonseca, Ézia Christina Siervo; Maria Auxiliadora Delbem, Maria Angélica Andrada Morano, Aparecida Souza Dezolt, Nicolau Carvalho Esteves, Luciando Alencar da Cunha, Agezandro Zaidan e Palma Viol. Sala das Sessões, 26 de junho de 2003