(*) Gustavo Werneck
Sem recursos para restaurar o casarão colonial, erguido em meio a 50 mil metros quadrados de área, o dono, Alexandre José do Nascimento Couto, de 47 anos, quer doá-lo, com um entorno, à prefeitura local, embora mantendo cláusulas fundamentais: “Tem de ser para fins culturais, aberta à visitação pública e com bom acesso”, afirma.
A chegada das chuvas, no entanto, preocupa o advogado e procurador de Alexandre, Alex Guedes dos Anjos, empenhado na luta para salvar o patrimônio da derrocada e parceiro da família Couto na busca de soluções. Na semana passada, ele ingressou com ação na Justiça Federal, em São João del-Rei, a 53 quilômetros de Barbacena, para que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável pelo tombamento da Registro Velho desde 2002, execute obras emergenciais (escora do prédio e cobertura com lona).
Em outubro, com o mesmo propósito, Alex ajuizou ações na comarca, com pedido de liminar, contra o município de Barbacena, que fez o tombamento em 1993, e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG), que não tem tombamento do local. A liminar foi negada em duas instâncias e Alex não desiste.
Mas é ao vivo e em cores, algumas bem desbotadas, que a fazenda impressiona, principalmente “pelo que representa para Barbacena e para o país”, diz o ex-proprietário, José Cordeiro Couto, de 77, técnico em agrimensura e em transações imobiliárias. Pai de Alexandre e residente no casarão até quatro anos atrás, “quando o imóvel se tornou inabitável”, Cordeiro apoia a doação, mas duvida que a prefeitura tenha dinheiro para bancar as obras.
Reformas urgentes
Na quinta-feira, pai e filho, na companhia de Alex, mostraram o estado da construção e se disseram abertos a negociações. “Há 38 anos venho mexendo na fazenda, apliquei muito dinheiro na sua recuperação, mas agora não posso mais. É aquele esquema, conserta daqui, atrapalha de lá. Infelizmente, não dá mais para morar no casarão, pois está perigoso de cair”, explicou o pai.
Alex ressalta que, nos séculos 18 e 19, a casa hospedou gente ilustre, entre eles Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792) e o imperador dom Pedro I (1798-1834), sendo registrada pelo naturalista e viajante francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853) e o cientista alemão naturalizado russo Georg Heinrich von Langsdorff (1774-1852). No século 20, mereceu versos do poeta Carlos Drummond de Andrade em Bens e vária fortuna do padre Manuel Rodrigues, inconfidente: “Que armas escondia em sua Fazenda do Registro Velho, o inimigo da rainha, a perpétuo degredo condenado?”.
Janelas e portas
Logo na entrada do casarão – originalmente com 13 cômodos e um pátio em forma de “u” –, Cordeiro mostra, com orgulho, o pé de cambucá, as plantas medicinais e as centenárias jabuticabeiras cobertas de frutas. Na fachada, um florão, com a pintura de uma paisagem, chama a atenção, mesmo que a tinta da parede esteja toda descascada e as amarrações do pau a pique, aparentes.
O susto maior vem na parte dos fundos, que está semidestruída e exibe, no chão, peças de madeira misturadas a esteiras de bambu despregadas do teto, cacos de telha e tijolos quebrados. Para garantir o futuro restauro e as características primitivas do prédio, Alexandre guarda, num galpão, janelas e portas de cômodos em ruína.
(*) Matéria de Gustavo Werneck - publicada em 15/11/2010 no Jornal Estado de Minas
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