quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Estadistas não consultam marqueteiros




Ao iniciar o horário político no rádio e na televisão o jornalista Augusto Nunes, da revista Veja, apresentou uma reflexão sobre a propaganda política.


A era dos marqueteiros produziu incontáveis espantos: acabou com todos os vincos e rugas, erradicou os cabelos brancos, instituiu a obrigatoriedade do uso do uniforme terno-azul-marinho-camisa-azul-celeste-gravata-vermelho-cheguei, aposentou os óculos de aros grossos.
Converteu arrogantes vocacionais em poços de humildade, permitiu a gargantas franzinas formularem incongruências com voz de tenor, transformou azarões em favoritos, elegeu perfeitas nulidades e promoveu bestas quadradas a gênios da raça. Mas não produziu um único estadista.
O sumiço dessa fina estirpe não pode ser debitado inteiramente na conta do profissionais do marketing político. Mas é impossível imaginar um marqueteiro soprando o que deve ser feito aos ouvidos de um estadista.
Gente assim sabe que pesquisas de opinião captam um estado de ânimo condicionado por circunstâncias passageiras ─ e pelo imaginário popular. Sabe que a voz do povo não é ditada pela Divina Providência: é apenas a voz do povo, e não traduz necessariamente o que é melhor para um país.
Como os políticos comuns, profissionais do marketing político pensam na próxima eleição. Estadistas pensam na próxima geração.
Em 1938, já que a maioria dos britânicos queria um tratado de paz com a Alemanha, os marqueteiros teriam sugerido a Winston Churchill que fosse mais polido com Adolf Hitler.
Nos anos seguintes, sobraçando levantamentos do Instituto Gallup, teriam implorado a Franklin Roosevelt que mantivesse os Estados Unidos fora de uma guerra que, para sete entre dez americanos, era um problema europeu.
Na eleição que se seguiu ao triunfo contra a Alemanha nazista, Churchill também seria aconselhado a livrar-se do charuto, beber menos, esconder que dormia depois do almoço, emagrecer pelo menos 15 quilos, usar fotografias que amputassem a calvície e, sobretudo, parar de denunciar com tanta veemência a política expansionista da União Soviética.
Cansados de guerra, os ingleses não queriam sequer ouvir falar em Guerra Fria. Churchill talvez não tivesse perdido a eleição. Mas perderia a chance de voltar nos anos 50, o lugar que lhe coube na História e o respeito que sempre merecerá de todas as gerações.
A oposição brasileira precisa mais de líderes com visão histórica que de candidatos com chances de vitória. O país que presta está pronto para o combate frontal e sem prazo para terminar. Se o preço a pagar pela chegada ao poder for a rendição sem luta, os democratas preferem a derrota.
O que está em jogo não é o Palácio do Planalto, é o futuro. Não se trata de escolher entre nomes, mas entre a liberdade e o autoritarismo. José Serra e todos os oposicionistas decentes devem mirar-se no exemplo do primeiro-ministro britânico.
A farsa precisa ser desmascarada. A fraude não resiste ao confronto com a verdade. Quem se opõe tem o dever de denunciar com dureza os crimes e pecados do adversário.
Churchill perdeu as primeiras batalhas. Sabia, quando começou a guerra contra o inimigo primitivo e poderoso, que tinha o apoio declarado de menos que 5% dos ingleses. Mas também sabia que tinha razão. E a civilização sobreviveu.

3 comentários:

  1. De fato estadistas não necessitam de grandes propagandas de marketing, porque tem experiência no ramo da política e sabem que uma boa impressão ajuda a se colocar na frente, mas não faz com que atinjam a vitória. Por seus largos anos de atuação passam a se preocupar com o futuro e com as possíveis mudanças de um país melhor. E suas construções passadas criam um nome que passa a ser visto como tradição. Muito além de uma boa imagem, um candidato, e bom político deve ter bons ideais e boas propostas para reformar nosso Brasil. Sua fama e imagem serão apenas conseqüência de suas reais intenções.

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  2. Cáio Martins 2º Período Direito Manha24 de setembro de 2010 às 23:34

    A verdadeira identidade dos políticos vem sendo substituída pelos modelos de marketing eleitoral. O brasileiro vota no homem de terno porque pensa que este é doutor, nao investiga sequer o seu passado político; Michel Temer, José Sarney dentre outros candidatos com negro passado servem de exemplos para esta colocação.Experiência eleitoral recente mais infeliz do que a eleição de Collor não há para o Brasil ( o marketing pessoal eleitoral iniciou-se no Brasil através de Collor). Como Lula mudou da década de 80 até os dias atuais... graças a quem?! Duda Mendonça, seu marketeiro. Barack Obama era a esperança de todo o EUA devido seu marketing (hoje para muitos é a decepção). Fica alguns questionamentos: algum destes nomes é de um Estadista?? Getúlio e Tancredo precisaram desta maquiagem eleitoral para se consagrarem na história??

    Cáio Martins 2ºPeríodo Direito Manhã

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  3. Primeiro comentário feito por::
    Aluna Bianca Campos
    2º Período Direito Manhã

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