quinta-feira, 5 de agosto de 2010
A Reforma Política no Brasil
No último dia 29 de julho, em Porto Alegre, o presidente Lula afirmou que será um “leão” para que seu partido faça a reforma política. “Temos muita dificuldade de fazer a Reforma Política. Depois que eu não for mais presidente vou ser um leão para que o meu partido assuma a responsabilidade de junto com outros fazer uma Reforma Política. Não é de responsabilidade do presidente da República fazer Reforma Política, é responsabilidade dos parlamentares e, portanto, temos que priorizar”, concluiu.
Segundo o jornalista Leandro Mazzini, do JB, no dia oito de junho o presidente Lula afirmou que só uma Assembléia Constituinte poderia tocar uma reforma política de verdade. Pediu que agora o projeto seja para valer. A sugestão foi dada para dois aliados durante um jantar na residência do presidente da Câmara, Michel Temer. Lula evitou criticar o Congresso, mas desabafou: “Para ter uma reforma política, acho que a alternativa é mesmo convocar uma Constituinte”.
O recado de Lula teria sido levado adiante e seria protocolada na Câmara, uma PEC propondo uma Constituinte Exclusiva, para 2011, com prazo de oito meses, a fim de que se chegue a um consenso sobre fidelidade partidária, financiamento público de campanha, lista aberta ou fechada, voto distrital, entre outros pontos.
Minha entrevista sobre o tema
Defendo a tese de que uma Reforma Política só se viabilizaria no primeiro ano de mandato presidencial, quando o Chefe do Executivo tem respaldo eleitoral e político. Recentemente em Belo Horizonte, fui entrevistado por acadêmicos de Jornalismo do 10º período da PUC/MG, sobre a “Reforma Política”. O Projeto de Lei sobre a Reforma tramita há anos no Congresso Nacional. Transcrevo abaixo trechos da entrevista realizada para o projeto acadêmico da PUC, coordenado pelos acadêmicos Willian Rocha Ferraz e Glauber Fraga.
A Reforma política
Pergunta - Acadêmicos da PUC: com a reforma política a população terá maior participação na vida política? Se o Sr. quiser fazer algum tipo de consideração fique a vontade.
Resposta - Prof. José Augusto: é preciso lembrar que só a reforma política não resolverá os problemas da área pública e da participação popular. Aliada a ela, será necessária também uma reforma do Estado, um redesenho da nossa federação e do papel a ser desempenhado pelos poderes do Estado: Executivo, Legislativo e Judiciário, além do Ministério Público e dos Tribunais de Contas.
Conceitos e Paradigmas
P - Acadêmicos: então toda a estrutura do Estado necessita ser reformulada?
R - Prof. JA: sim, a nossa federação está em frangalhos, praticamente só existe no papel, e a atuação dos nossos poderes está ultrapassada em muitos pontos, com sobreposição de tarefas e competências, gerando inoperância, conflitos desnecessários e desperdício de esforço público e recursos financeiros.
P - Acadêmicos: quais alterações a reforma acarretará no sistema e na cultura política do Brasil?
R - Prof. JA: a atual realidade política brasileira é reflexo direto do nosso deficitário estágio educacional e cultural, que fragiliza em muito o exercício da cidadania pelas pessoas. É difícil mudar conceitos e paradigmas sem evolução cultural.
Modelos políticos
P - Acadêmicos: daí temos de importar modelos políticos?
R - Prof. JA: simplesmente importar modelos de outros países não resolve, porque a prática não será exercida pelas mesmas pessoas: os modelos externos servem às culturas consolidadas em determinados países, que têm histórias e níveis de desenvolvimento diferentes do nosso.
P - Acadêmicos: o modelo brasileiro decorre de onde?
R Prof. JA: copiamos o modelo federativo americano, mas na prática o federalismo brasileiro é bem diferente e muito deficiente e precário; ou seja, são povos distintos com histórias e motivações distintas, que interpretam e analisam o sistema federativo de forma diferente também.
Conscientização popular
P - Acadêmicos: então a reforma será significativa?
R - Prof. JA: entendo que precisamos reformular as políticas públicas voltadas para a educação e a cultura da população para fortalecer a cidadania: só com maturidade educacional e cultural o povo entenderá a dimensão transformadora da política e poderá pressionar por reformas estruturantes. Sem esta conscientização popular será muito difícil implementar reformas significativas.
P - Acadêmicos: que reforma política valeria a pena?
R - Prof. JA: uma reforma que valha a pena deve fortalecer a representação popular, combater a corrupção política e eleitoral, dar vida orgânica aos partidos e valorizar a participação popular nas decisões e no controle da execução das políticas públicas.
Alienação sobre o tema
P - Acadêmicos da PUC: por que a reforma política não sai do papel?
R - Prof. JA: porque a reforma irá alterar o quadro político atual, gerando incertezas e inseguranças em vários setores e grupos políticos que hoje se sentem consolidados. É difícil pessoas promoverem reformas contra a própria sobrevivência: assim, quem detém o poder atualmente teme reformar e perder espaço no novo quadro que se formará e com as novas correlações de forças que inevitavelmente surgirão. E não existe pressão popular.
P - Acadêmicos: como assim?
R - Prof. JA: a grande maioria da população está alienada e não entende ou não compreende a importância da reforma política, e por isso não pressiona nem se movimenta de maneira efetiva em favor das mudanças nesta área.
Financiamento de campanhas
P - Acadêmicos: como se dá o financiamento de campanha política atualmente?
R - Prof. JA: hoje, o financiamento eleitoral é privado e individualista; quer dizer, grandes empresas financiam candidaturas pessoais, gerando uma relação promíscua entre a classe política e o interesse do grande capital: financiam-se pessoas e não idéias ou correntes de pensamento. Isto também é muito negativo para a sobrevivência dos partidos que acabam relegados a um segundo plano.
P - Acadêmicos da PUC: como se dá o financiamento público de campanha nesse novo modelo de política?
R - Prof. JA: com o financiamento público, afasta-se do ambiente político o interesse imediato do grande capital e possibilita o fortalecimento dos partidos, já que eles é que receberiam os recursos e não os candidatos. Com isso, o individualismo político daria lugar ao coletivo, ao programa partidário e às idéias contidas nele.
Sistema eleitoral
P - Acadêmicos: o sistema eleitoral seria proporcional, distrital ou misto?
R - Prof. JA: a experiência eleitoral em todo o mundo ocidental nos indica que o sistema distrital é mais autêntico e possibilita maior estabilidade política. Nele, a relação eleitor/candidato adquire contornos mais definidos, já que as eleições aconteceriam em um território menor, o chamado distrito.
P - Acadêmicos: mas como o Sr. disse anteriormente haverá adaptações?
R - Prof. JA: precisamos adaptar as experiências estrangeiras à nossa realidade: assim, poderíamos adotar o sistema distrital e, dentro dele, continuar praticando o sistema proporcional. Apesar de muitas falhas, o sistema proporcional é o que mais espaço dá às minorias; e as falhas hoje existentes seriam relativizadas com a adoção dos distritos.
Benefícios e objetivos
P - Acadêmicos: quais serão os benefícios dessa reforma para o país?
R - Prof. JA: o sistema político é o que gerência todos os outros, como a economia, a educação, a saúde, a segurança e etc. Se o sistema político estiver fragilizado, todas as políticas públicas em geral poderão estar comprometidas em suas metas, além do problema da corrupção e dos desvios.
P - Acadêmicos da PUC: por fim, qual o grande objetivo de uma reforma política?
R - Prof. Jose Augusto: a reforma política busca dar solidez ao sistema político, dotando-lhe de maior legitimidade popular, de maior transparência e qualidade na representação. Sem bons políticos não teremos boa política. Este é o grande objetivo da reforma: em sintonia com a população, filtrar os maus políticos e estimular a boa gestão pública.
Próximo Post: Coluna Semanal de Barbacena – Ano XV; Especial Concursos; Especial aniversário de Barbacena.
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A Reforma Política evidencia sua necessidade principalmente em ano eleitoral, onde ganha destaque os partidos políticos e a troca de ofensas entre oposição e situação. Convivemos hoje com pseudoalianças (pseudo porque não são reconhecidas partidariamente) como Helécio(Hélio Costa PMDB/ Aécio Neves PSDB)e Dilmasia (Dilma PT/ Anastasia PSDB)fator estes que descaracterizam as ideias defendidas de cada segmento. Há anos a ideologia partidária se perdeu em detrimento do autobenefício dos políticos; então surgem dois questionamentos: Por que ainda existem partidos políticos?! A existência de partidos polítiocs é razoavel para enfrentar a realidade brasileira?! A diversidade de partidos desfiguram as bandeiras defendidas pelos mesmos. Muito nos admira correntes tão divergentes caminharem atualmente ao mesmo lado, Collor e Lula, opositores ferrenhos nas eleições de 1989, demonstram a falsidade que ocorre no plano político. A Reforma Política seria ineressante para se rever bandeiras a serem defendidas.
ResponderExcluirCáio Martins 2° Período de Direito
há uma imensa necessidade de reforma,na atual política,e com ela uma elaborada transição até que seja possível um sistema mais sólido.
ResponderExcluirnão podemos nos ater ao lado difícil, como a questão da transição de sistema ou pressupostos em questão de eficácia,para não distanciarem ainda mais deste projeto de se tornar lei.
Concordo com o professor, para os atuais políticos não é interessante a reforma política pois isso acordaria o povo do sono profundo, tornando-os mais críticos. A mudança às vezes não seria tão benefica para quem está manipulando a máquina administrativa. O povo não imagina o quanto ganharia com um sitema político sólido.
ResponderExcluirBianca Campos 2º Período Direito Manhã
ResponderExcluir“No Brasil, Reforma Política é o nome dado ao conjunto de propostas de emendas constitucionais e revisões da lei eleitoral com fins de tentar melhorar o sistema eleitoral nacional, proporcionando, segundo seus propositores, maior correspondência entre a vontade do eleitor ao votar e o resultado final das urnas”.
Retirado do site: Wikipedia conceito de Reforma Política
Precisamos de novos governantes, que saibam ser ousados e que ponham em prática suas palavras. Que tenham em seu plano de governo uma reforma política capaz de melhorar o nosso país.
Mas isso só seria possível em um governo inovador, pois uma reforma política iria mexer com os grandes detentores de poder, com os grandiosos que não deixam o povo atuar de forma livre, mesmo estando em um país democrático.
Quem sabe um dia nós brasileiros não tenhamos de volta a nossa velha legenda ou em então quem sabe votaremos em um partido e não nas pessoas.
Reformular os partidos brasileiros também é necessário, visto que hoje em dia a movimentação de políticos é muito grande, não se pode afirmar com certeza qual candidato está em qual partido.
Bianca Campos
2º Período Direito Manhã