sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Sobre pais e filhos
O articulista Theófilo Silva, colaborador da “Rádio do Moreno”, coluna do Jornal “O Globo”, assinada por Jorge Bastos Moreno, aborda o tema paternidade, assunto debatido em sala de aula na última semana. Veja o artigo:
A era dos filhos considerados bastardos ficou para trás. Durante muitos séculos foi uma cruel realidade que destruiu muitas vidas e criou categorias familiares diferenciadas.
O filho “ilegítimo”, nascido fora do casamento, era excluído e estigmatizado. Sua existência, quando nascido na aristocracia, mexia com direitos de sucessão e abalava as monarquias.
A quantidade de guerras causadas por esse motivo são bastante numerosas. A indissolubilidade do casamento, garantido pela Igreja, era um tabu e somente os poderosos, em algumas sociedades – Roma conhecia o divórcio - podiam se divorciar.
A campanha Pai Presente, iniciada esta semana pelo Conselho Nacional de Justiça com “o objetivo de identificar os pais que não reconhecem seus filhos e garantir que assumam suas responsabilidades, contribuindo para o crescimento psicológico e social dos filhos” é uma medida que merece todos os aplausos da sociedade brasileira.
Uma pesquisa identificou que cinco milhões de brasileiros ostentam em sua carteira de identidade, no espaço Nome do Pai, o título de Pai Desconhecido ou apenas o nome da mãe.
Nós sabemos do preconceito que sofrem essas pessoas, sendo chamadas de: “filho dessa” e “filho daquela” e o quanto elas sentem vergonha ao apresentarem seu RG para outrem.
Em São Paulo, um promotor de justiça pesquisou a origem familiar dos detentos da FEBEM, e constatou que mais de 80% dos jovens infratores não sabiam quem era seu pai.
Esse promotor assumiu uma tarefa hercúlea, ele chamou as mães de quase 800 desses detentos e as fez identificar quem era o pai dos seus filhos. O resultado, é que ele descobriu os nomes dos pais em mais de 95% dos casos.
Na Inglaterra, basta uma mulher apontar um homem como pai de seu filho para que a lei o considere com tal. Caberá a esse homem provar o contrário. Os governos sabem da importância de termos uma identidade familiar e o quanto isso é importante para a formação da nossa personalidade.
A desagregação familiar pode levar a desagregação social. E é um fato, que o conceito de família mudou assustadoramente nos últimos vinte anos, seja do ponto de vista biológico seja do ponto de vista de gênero sexual. Os papéis ficaram confusos. Ainda assim uma verdade permanece: toda criança tem um pai biológico.
Shakespeare diz que: “aquilo que prometemos no calor da paixão, acalmada a paixão é por nós abandonado”. Grande verdade, quando se trata do relacionamento entre duas pessoas que prometeram se amar eternamente,seja esse amor de curta ou longa duração.
Só que essas promessas podem ser restritas apenas durante o ato sexual que pode ser por uma única vez, fortuita – o Bardo chama de: “trabalho de escada” - ou de uma relação de paixão ou de amor duradoura.
O fruto dessa relação pode ser um filho, e o homem tem que se responsabilizar por isso. A leviandade ocorre dos dois lados: de ambos que não se protegem – é enorme a quantidade de contraceptivos – e muitas vezes o homem não quer assumir as responsabilidades de ser pai.
O Estado e a sociedade que arquem com as responsabilidades de um filho sem pai, já que a situação da mãe é quase inescapável.
Medidas como essa do Conselho Nacional de Justiça têm um alcance social muito maior do que muitas medidas oriundas de politicagem. Cuidar da família, eis a grande tarefa.
Todo filho, quando jovem, deve procurar seu pai e obrigá-lo a cuidar dele, é lei! Quem fez e quem pariu Mateus que o embale!
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A importância de vir a identidade paterna em um documento de identidade inibi o constrangimento pessoal perante a sociedade. E nesta questão, a Campanha Pai Presente alcança seu objetivo.
ResponderExcluirExistem inúmeras pessoas que não possuem em seu documento o nome do pai. Mais será que tudo vai mudar na vida delas se apenas o nome deste for adicionado ali? Não adianta ter o nome do pai na certidão sem a participação deste na vida afetiva do filho, pois existem crianças que possuem o nome do pai na certidão, mas são renegadas afetivamente por ele. Imagine o sofrimento de uma criança ao saber que tem um pai que a renega? É esse tipo de sentimento que a campanha irá despertar. Os pais podem sim registrar, mais lei nenhuma os obriga a ter qualquer tipo de afeição aos filhos. E mesmo que existisse uma lei com tal caráter, imagine como seria artificial uma relação obrigatória, não haveria qualquer tipo de sentimento verdadeiro, e a criança mais uma vez seria prejudicada. A campanha pai presente, não possui a titulação correta, pois quem afirma que o pai estará presente na vida deste filho após o registro? Muito pelo contrário, por ser uma obrigação, pode gerar uma revolta ainda maior nestes pais, pois sabemos que existem inúmeras pessoas que acreditam que a paternidade é maléfica. Além de tudo a campanha não é tão simples, os magistrados mandarão chamar as mães para que compareçam em juízo e indiquem, se quiserem e puderem, o nome do pai de seu filho, e o indicado será intimado a comparecer diante do juiz. Ele poderá reconhecer espontaneamente a paternidade ou, se tiver dúvidas, pedir análise de DNA. Também poderá não admitir a paternidade e se negar a fazer o exame, mas, nesse caso, poderá ser intimado a fazer o teste. Ao final do processo, se tudo der certo, o filho terá o nome do pai em seus documentos. Mas se algo der errado todo o processo, foi desnecessário. E o constrangimento pelo qual a mãe submeteu-se, caracteriza a abertura de uma ferida já cicatrizada. Mas a esperança adquirida pela criança reabre a ferida em processo de cicatrização e ainda gera danos psicológicos que talvez sejam irreversíveis.
ResponderExcluirUm tema polêmico demais e de esfera dimensional que nos leva a crer que de fato instituições importantíssimas e de grande função social como a família, igreja e escola estão à beira da falência mediante fatos de extrema relevância já que algo mais severo, com decisões mais contundentes poderia amenizar o sofrimento do maior prejudicado que no caso citado é a criança. Responsabilizar este ou aquele ou mesmo oficializar o nome do pai no registro seria o suficiente para garantir um crescimento ajustado, digno? Digamos que seja um "primeiro" passo, porém as finalidades devem ser preestabelecidas, vislumbrando o bem estar e os devidos direitos que a criança tem.
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